segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Entrevista


                                MESTRE POLACO
                Grupo de Capoeira São Bento Pequeno



Nascido no Rio de Janeiro, José Roberto Gusmão Rocha, Mestre Polaco, é o responsável pela memória de Mestre Paraná. Seja pelos documentos guardados, pelas fotos, ou pelas histórias ricas em detalhes, que ele gosta de contar. Aos 62 anos, relembra a relação com seu Mestre e a esposa,  Tia Maura. Dela, além do carinho, carrega também uma foto na carteira. "Ela é minha santinha, me protege", me disse uma vez emocionado.

Preparando um encontro pelos 90 anos que Mestre Paraná completaria esse ano, e irá reunir os alunos desse grande ícone, Mestre Polaco nos concedeu essa entrevista imperdível.

*A entrevista a seguir foi realizada em Abril de 2012 e é inédita e exclusiva do Blog Capoeira de Toda Maneira


(Maíra Gomes) - Como começou na Capoeira?

(Mestre Polaco) - Eu comecei na capoeira em 1957, levado pelo meu amigo e vizinho de bairro, Wilson Araújo, o Mestre Malhado(que já fazia capoeira com o Mestre Paraná, aliás, o Malhado foi o 2º aluno do Paraná). Mas eu já tinha visto capoeira na rua e fiquei fascinado com "aquele negócio".

(Maíra Gomes) - Como conheceu o Mestre Paraná e como era sua relação com ele?

(Mestre Polaco) - A minha história com o Mestre Paraná é interessante. Quando eu fui levado pelo Malhado, o Paraná estava sentado lá no banquinho dele e me recebeu normalmente. Eu fiquei treinando durante alguns anos e a minha família só sabia que eu "estava metido com aquele negócio de capoeira". Eu morava na Av. Itaóca e a casa do Paraná era ali perto, mais ou menos uns três quarteirões da minha casa. Um belo dia, nós do Grupo São Bento Pequeno, teríamos que viajar para Brasília e ficar uma semana, pois nós nos apresentaríamos na inauguração do Teatro Nacional de Brasília, e eu fui falar com a minha mãe que teria que viajar e ficar fora uma semana(com a turma da capoeira). Bom, minha mãe riu e disse "Tá maluco garoto,você acha que eu vou permitir?" E eu disse "Mas mãe o Mestre Paraná vai!"e ela respondeu "E daí, se eu nem conheço esse tal de Paraná" aí eu respondi que ia trazer o Mestre lá em casa. E assim fiz, falei com o  Paraná e ele e a Tia Maura foram juntos na minha casa. Lá chegando eu falei pra minha mãe "Mãe, esse é o Mestre Paraná, e ela é a Tia Maura". Minha mãe olhou pros dois e disse"Quem??Paraná e Tia Maura??Menino estes daí são Osvaldo e Maura, que te pegaram no colo quando você ainda era bebê, pois eles moravam naquela vila ali da frente! ". E começaram a rir os três. E talvez seja por esta feliz coincidência, que eu era chamado de "queridinho do Paraná e da Tia Maura".

(Maíra Gomes) - Das características do seu Mestre, o senhor se vê em alguma delas?

(Mestre Polaco) - Das características dele, acho que só vejo em mim o amor pela capoeira. Pois o Paraná era assim, nunca viveu de Capoeira e sim pela Capoeira.

(Maíra Gomes) - Quem são seu ídolos?

(Mestre Polaco) - Em primeiro lugar o Mestre Paraná e depois os outros 
(principalmente os do meu grupo, como Malhado, Mintitinha, Índio e etc)

(Maíra Gomes) - Na sua opinião, é viável uma graduação única para todos os grupos?

(Mestre Polaco) - Na minha opinião é perfeitamente viável uma graduação única na capoeira, basta boa vontade, humildade e consenso entre as correntes(corda e cordel).

(Maíra Gomes) - O que mudou no comportamento dos capoeiristas da sua época de aluno para hoje em dia?

(Mestre Polaco) - No meu tempo se jogava capoeira por amor(e eram poucos os lugares para se jogar),o dinheiro era uma consequência. Hoje as coisa se inverteram e dinheiro vem primeiro. Eu até entendo que a maioria vive de capoeira, por isso.

(Maíra Gomes) - O senhor se tornou uma espécie de guardião da memória de Mestre Paraná. Por que o senhor tomou pra si essa responsabilidade?

(Mestre Polaco) - Eu não tomei pra mim a responsabilidade de "guardião da memória do Mestre Paraná", ela me foi dada pela Tia Maura, logo após a morte dele (Paraná), bem como a continuidade do nome GRUPO DE CAPOEIRA SÃO BENTO PEQUENO.

(Maíra Gomes) - O senhor atualmente não dá mais aulas. O que fez o senhor se afastar das aulas de Capoeira?

(Mestre Polaco) - Em 1979 eu tive um grave problema de saúde, juntamente com isso uma crise enorme na minha vida pessoal e aí juntou-se uma desilusão com os rumos que a capoeira tomava naqueles anos(80).

(Maíra Gomes) - O que a Capoeira mudou na sua vida?

(Mestre Polaco) - A capoeira mudou muito a minha vida, mas eu destaco a amizade, a lealdade e o respeito, como os principais.

(Maíra Gomes) - O senhor é casado e tem filhos.Eles praticam ou já praticaram Capoeira?

(Mestre Polaco) - É, sou "casado" há 27 anos com a minha segunda mulher e tenho duas filhas do primeiro casamento, Renata e Roberta. A primeira chegou a treinar comigo algum tempo, mas depois eu me separei e aí ...complicou. Já a mais nova, adora capoeira (tem até uma tatuagem de um berimbau no braço)mas nunca praticou.

(Maíra Gomes) - A Capoeira já ocupou seu lugar de direito na sociedade?O que há ainda para conquistar?

(Mestre Polaco) - Sim a capoeira já ocupou o seu lugar na sociedade há muito tempo. E o que há para conquistar, é utopia, eu sei, mas temos realmente só uma coisa para conquistar, é uma dura batalha, pois é entre nós capoeiras....Precisamos conquistar nossa humildade. Iê!!!!

Contato:

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