quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Capoeira me leva - Polônia



Há alguns meses a Cozinheira, capoeirista polonesa que escreve o site Capoeira Polposku,  me convidou a escolher três músicas a serem traduzidas no site.

O convite gerou em mim uma grande curiosidade: Como anda a Capoeira na Polônia?

Antes de contar um pouco sobre o crescimento da Capoeira nas bandas da Europa Central, vamos conhecer um pouco da história da criação do site Capoeira Polposku.

Cozinheira é o apelido de Justyna Balczewska, uma capoeirista  de 31 anos, natural de de Kujawy, região da Polônia central. Ela conheceu a Capoeira no México e lá teve sua primeira aula.

De volta a sua cidade, iniciou seu aprendizado com o Instrutor Ossada, com quem permanece até hoje.

Treinou também com o Professor Filósofo, do grupo Berimbau de Ouro, nos dois anos em que viveu em Portugal. Foi nesse período que nasceu uma grande paixão pelas músicas de Capoeira.

Ao retornar para a Polônia, Cozinheira percebeu que a maior parte dos capoeiristas  não fazia ideia do que estava cantando e isso fez com que ela criasse o site, que além de traduzir, contextualiza as letras historicamente, proporcionando um entendimento completo das músicas.

Cozinheira se inspirou no Blog Capoeira de Toda Maneira para criar o seu site. Isso me deixou extremamente feliz e orgulhosa.

Os curiosos podem descobrir quais foram as três músicas que eu selecionei aqui, aqui e aqui. Gostaram?


Mas e a Capoeira na Polônia?

Vai bem, obrigada! Crescendo e se multiplicando.

São cerca de 20 anos desde a chegada da nossa arte no país e as escolas já adotam a Capoeira como desporto.

Hoje estão presentes grupos como Capoeira Brasil, Muzenza, Unicar, Capoeira Camangula, Associação de Capoeira Mestre Bimba, Capoeira Beribazu, Aruê Capoeira, Capoeira Porto de Minas, Capoeira Pelo Sinal da Santa Cruz, Companhia Pernas Pro Ar, Escola Cultural Capoeira Gerais, Escola da Capoeiragem, Fundação Internacional Capoeira Artes das Gerais, Grupo de Capoeira Angola Irmãos Guerreiros e Orun Capoeira.

O valor da mensalidade está em torno de 20 a 30 euros, algo entre 70 e 100 reais, dependendo da cidade.

Legal, né? Fico muito animada com a ideia de ter a língua portuguesa sendo popularizada através da capoeira, de ver nossa cultura sendo disseminada e nossa história sendo contada pelo mundo.

Pensei em fazer outras postagens desse tipo, sempre abordando a situação da Capoeira em países diferentes. O que acham? Quem quiser participar dos próximos "Capoeira me leva", pode enviar e-mai para maira.xarazinha@gmail.com


Imagem gentilmente cedida pela Cozinheira.




segunda-feira, 21 de março de 2016

A palavra do Mestre - Capoeira é esporte? - Parte 4




Para finalizar a questão do reconhecimento da Capoeira como esporte, pelo Ministério dos Esportes, trago a opinião de mais 5 mestres: Mestre Gato, Mestre Linguiça, Mestre Flávio Saudade, Mestre Alexandre Batata e Mestre Meinha.
Se você perdeu as postagens anteriores, clique aqui, aqui e aqui para saber o que pensam os mestres Boneco, Caçapa,Thiara, Catitu, Franja, Namorado, Ron, Mara, Kaco, Barrão, Preguiça, Fumê, Toni Vargas, Adelmo e Bené.




Mestre Gato - Senzala

“Capoeira é arte popular, patrimônio imaterial cultural da humanidade, não é esporte. É uma manifestação de cultura popular, tem elementos de dança, arte marcial, música, teatro de rua, mas não pertence a um desses elementos apenas. São eles integrados que caracterizam, de forma única, a roda de capoeira e temos a obrigação de preservá-la. Ela se desenvolveu sem apoio oficial e está presente agora no mundo inteiro, atraindo interesses de pessoas que não têm nada a ver com seu contexto.”




Mestre Linguiça – Arte de Bamba

“Pra quem é capoeirista de fato, alma e de direito, Capoeira é muita coisa: cultura , luta, arte, dança, lazer, esporte, filosofia de vida e etc. Porém, para quem apenas quer usar a Capoeira, fragmentando fica mais fácil. Quem faz  no máximo 6 meses de aula na faculdade não adquire conhecimento suficiente para ensinar, mas estão ensinando.

Hoje um secretário de esportes pode captar recursos para fazer um campeonato e realizar o mesmo sem a necessidade de um mestre, contramestre ou professor de Capoeira.  pois é só comprar um CD, pegar as regras, que já estão escritas desde que foi regulamentada em 1973 pela Federação Brasileira de Pugilismo, e arrumar competidores para realização do evento. Ou seja , estão fazendo com a Capoeira o mesmo que fizeram com o carnaval. Nasceu como sendo do povo e para o povo, agora somente a elite tem participação efetiva. Assim está acontecendo com a Capoeira.”


Mestre Flávio Saudade - Coordenador do Projeto Gingando Pela Paz

"Após ser incluída no Código penal, em 1934 a Capoeira foi liberada e proclamada pelo então Presidente da República esporte nacional brasileiro. Porém, o que houve foi um golpe, uma verdadeira rasteira que limitou a Capoeira ao espaço fechado. Com isso, a sua identidade revolucionária e seu caráter institucional foram profundamente atingidos. E o que vemos hoje é mais uma tentativa de rasteira, talvez a maior delas, pois a formalização da Capoeira como esporte abriria espaço para a sua industrialização, o que atingiria diretamente a sua essência. Cresceriam as escolas formadoras de atletas, engordariam as federações e confederações, lucrariam os grandes investidores às custas da descaracterização da nossa cultura.

Porém, temos de ter consciência de que existem muitos grupos e mestres que defendem a Capoeira como esporte e desenvolvem suas atividades neste sentido. Estão errados? Creio que não. Como não estão errados aqueles que como eu defendem a Capoeira como manifestação cultural e instituição revolucionária.

Como disse Mestre Pastinha, a Capoeira é "tudo o que a boca come". Logo, cada um come o que quer. A Capoeira é plural e responde às necessidades de cada um, e certamente muitos não abrirão mão de vê-la a serviço do mercado. E acontecerá exatamente isso caso a Capoeira seja delimitada somente como esporte. E quem o faz, não o faz senão por interesses financeiros e comerciais, para este modelo capitalista que vemos hoje destruindo vulnerabilizando nações e sacrificando vidas.

Porém, precisamos, nós capoeiras, fazermos a nós mesmos uma pergunta: qual é a Capoeira que queremos? E o que desejo ser para a Capoeira? Particularmente, acredito que o papel da Capoeira e de nós capoeiras vai muito além do que defender a Capoeira, mas precisa sair em defesa de outras bandeiras, das bandeiras do povo, como o fim da violência contra a mulher, o combate à corrupção e outras tantas bandeiras sociais. Necessitamos retomar a essência da Capoeira enquanto instituição. Ontem estávamos fechados entre paredes, hoje estamos fechados neste navio que se chama internet. É preciso voltar às origens e mostrar o que realmente somos, uma grande instituição revolucionária. E isso deve partir do berço, do Brasil! Porém, para isso devemos antes deixar de ver nossas diferenças como algo que nos separa, devemos olhar para aquilo que nos une e nos torna irmãs e irmãos: a humanidade. E a nossa luta deve ser por esta mesma humanidade, que agoniza diante de uma política mundial que inverteu o sentido das coisas, criando um mundo onde reina a ganância e a sede pelo poder, nos afastou do que realmente somos e nos escravizou quando nos fez correr atrás do dinheiro a cada dia.

A Capoeira tem muito para nos ensinar pois ela é a própria humanidade em exercício. Portanto, ela vai muito além de uma prática esportiva, isso é fato indiscutível.  E é esta força que precisa ser demonstrada, não apenas contra esta medida arbitrária deste conselho, mas em todos os momentos em que a humanidade, a vida, esteja sob ameaça."





Mestre Alexandre Batata – Companhia de Capoeira Contemporânea

“Capoeira é tudo, mas nem tudo é capoeira se as intenções não forem fiéis aos atos.”






Mestre Meinha – Cruzeiro do Sul

“Em uma parte é bom para que tenhamos mais acesso a patrocínios e aprovações de editais. Em outra parte é ruim porque muitos professores de Educação Física poderão dar aulas sem experiência ou vivência no mundo da Capoeira, deixando muitos mestres com muita bagagem desempregados.

Só não concordo com este reconhecimento agora, porque já tem uma lei reconhecendo a Capoeira como desporto e patrimônio, então acho que isso é uma jogada política, sei lá, para roubarem o que é nosso e o poder, o sistema tomar conta da Capoeira. Não estou acompanhando muito esse assunto, porque acho uma desonra para quem luta sua vida toda por nossa arte e cultura e dar de mãos beijadas ao sistema”


Nós queremos saber a sua opinião sobre o assunto, não deixe de comentar. Ajude na divulgação do Blog compartilhando nossas publicações em suas redes sociais. Curta nossa fanpage no Facebook e se inscreva em nosso canal do Youtube.


sexta-feira, 18 de março de 2016

E aí, qual a boa do final de semana?

Sexta a Domingo

Porto Alegre/RS



Paraguaçu Paulista/SP



França


Sexta-feira

Porto Alegre/RS



Sábado e Domingo

Capão da Canoa/RS


Sábado

Porto Alegre/RS



Araruama/RJ


Domingo

Rio de Janeiro/RJ


São Paulo/SP


Rio das Ostras/RJ


segunda-feira, 14 de março de 2016

A palavra do Mestre - Capoeira é esporte? - Parte 3


Vamos à terceira parte da série "A palavra do Mestre", que nessa primeira edição traz a opinião de mestres renomados sobre a decisão do Mistério dos Esportes em reconhecer a Capoeira como esporte. Se você não acompanhou as duas primeiras postagens, clique aqui e aqui para ficar por dentro.

Hoje temos as opiniões de Mestre Preguiça, Mestre Fumê, Mestre Toni Vargas, Mestre Adelmo e Mestre Bené.






Mestre Preguiça – Iê Capoeira


“A Capoeira é arte e cultura, nasceu em ânsia de liberdade, não pode ter dono, nem monopólio.  Isto que estão querendo fazer é mais uma covardia com a Capoeira.”









Mestre Fumê – Grupo Muzenza

“Eu acho que tudo que vem para somar é válido, tratar a capoeira como esporte nos dá mais suporte para colocar a capoeira nas olimpíadas.”




Mestre Toni Vargas – Centro Cultural Senzala

“Essa questão da Capoeira ser reconhecida como esporte é algo muito delicado. O problema pra mim é a capoeira ser só esporte, esse é o problema. 

Eu temo porque esse caminho de desespotivização da Capoeira é um caminho mais fácil e um caminho que favorece a muitas pessoas que não tem um conhecimento profundo de capoeira, não querem ter e estão se aproveitando e vão se aproveitar desse momento. 

São os caras que são donos de federações e que são politiqueiros, enfim, pessoas que não têm uma relação profunda com a Capoeira enquanto uma atividade múltipla, uma atividade holística e até nem compreendem a Capoeira nesse aspecto. 

É muito mais fácil para essas pessoas e pra muitas outras, infelizmente, ver a capoeira segmentada. Ver a Capoeira como esporte e só como esporte acaba sendo muito mais fácil, acaba sendo muito mais funcional pra pessoas que querem tirar da Capoeira alguma coisa, que querem ver isso acontecer de uma forma mais simples. Há uma verba, o esporte está sempre mais na moda e esquecem dos problemas que a gente teve bem recentes, não é nem num passado distante, num passado bem recente porque quem cuida da área do esporte é a educação física, mesmo que as pessoas digam “Não, não tem nada a ver, porque o CREF/CONFEF não vão se meter nisso” mas uma vez que ela for uma modalidade desportiva, for esporte, ela vai estar na área da Educação física e isso vai voltar, quer dizer,  é um retrocesso. Causará problemas a um enorme número de profissionais que não são formados em educação física e que são agentes culturais. São pessoas que se fizeram na capoeira, como a maioria dos mestres de renome e pessoas que realmente lutaram pela Capoeira. 

Eu não conheço  nenhuma instância em que uma federação tenha ajudado realmente a Capoeira. Eu nunca vi em 50 anos de capoeira. Quem levou a Capoeira para todos os países, para outros lugares, para as universidades não foi uma federação. 

Eu temo muito pela descaracterização da capoeira, principalmente, pela falta de visão dessas pessoas, que vão ceder ao que for mais simples e ao que der mais dinheiro. São pessoas, que na minha opinião, infelizmente, têm essa visão. Falam qualquer coisa, fazem qualquer coisa pra ganhar dinheiro com a Capoeira e eu temo muito por isso. 

O fato da Capoeira ser uma manifestação múltipla da nossa cultura não anula o fato dela ter também características desportivas. Todo esse tempo que ela não foi reconhecida, as pessoas faziam no Rio de Janeiro, em outros lugares e até em outros países, campeonatos e nunca ninguém foi lá acabar com o campeonato de ninguém. Nunca ninguém implicou que alguém estivesse fazendo um treinamento de capoeira. Eu mesmo sou uma pessoa que faço isso, sou superligado a questão cultural, mas também gosto do treinamento, dessa parte toda, agora, não tem problema nenhum ver a capoeira como cultura, ver a capoeira em toda a usa grandiosidade e poder ter também uma abordagem desportiva em algum momento, em algum momento. Isso é completamente diferente de considerar a Capoeira como esporte, rotular a Capoeira como esporte e querer qualificá-la só como esporte, abandonando as outras coisas. 

O medo que eu tenho é esse, acho que isso tudo é feito a revelia, sem ouvir os capoeirista, porque na verdade essas pessoas donas de federação, os cartolas, não são representantes legítimos da capoeira, não têm com eles a maioria. Infelizmente essas pessoas forçaram essa barra, são oportunistas, é um momento muito delicado. Mas vamos ver o que vem pela frente, eu acredito muito nos capoeiristas e na Capoeira, sempre ela consegue se transformar e se recriar. Já houve muitas tentativas de enquadrá-la, mas eu não acredito que isso vá acontecer nunca, essa é a minha posição.


Mestre Adelmo – Capoeira Origens do Brasil

“Eu não acredito que possamos pensar em capoeira sem pensar na historicidade que ela compõe e não podemos jamais, e seria insano, descartar, ou deixar, mesmo que temporariamente, de lado o seu maior contentor, o Mestre (ou seja la qual o título que o agente transmissor tenha, professor, contramestre, trenel).

Qual a função primordial do mestre? Cuidar, transmitir, disciplinar e mostrar o caminho.

O que a história da capoeira tem demonstrado em toda a sua história? O mestre cuida do aluno, o aluno se tornando discípulo e o discípulo se tornando mestre.
De onde vem a base de tanto conhecimento? Toda essa construção foi forjada através de lágrimas, suor e sangue por milhões de capoeiras do passado e capoeiristas do presente. Assim construiu-se um sistema cultural maior dos que qualquer manifestação em solo brasileiro.

O sistema deseducou e a nação brasileira como meros trabalhadores braçais, sem capacidade de produzir reflexões (não irei me aprofundar neste aspecto para não me prolongar muito) assim com toda uma estrutura organizada, com os fundamentos estabelecidos e enraizados na construção dos mestres griôs, transmissores do saber ancestral. Se juntarmos tudo isso temos o estabelecimento de um sistema cultural. Fundamentalmente a capoeira é tudo e é nada, é positiva e negativa, ela é esporte e transcende esta faceta, ela é luta e também transcende esta faceta. Não dá para olhar em uma única direção quando a capoeira nos abre mil possibilidades.”





Mestre Bené – Benguela

“Tudo que vier de bom e de produtivo em prol da capoeira, que seja bem-vindo. Só falta a comunidade capoeirística se unir mais, porque essa é a única luta genuinamente brasileira.”







Na próxima semana mais cinco mestres falam sobre o tema.  Nos acompanhe nas redes sociais e fique por dentro de tudo que rola no blog Capoeira de Toda Maneira.
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sexta-feira, 11 de março de 2016

Aniversário de 5 anos + Promoção




Hoje é nosso aniversário de 5 anos e eu não poderia deixar de agradecer aos leitores que me acompanham e aos mestres que sempre me atendem. 

Quando criei o Blog não imaginei que daria tão certo, era apenas uma forma de unir duas coisas que eu amo muito, a Capoeira e o Jornalismo. 

Há 18 anos, quando comecei a treinar Capoeira, não imaginava que houvesse um universo tão rico e cheio de possibilidades a ser desvendado.

Desde a minha primeira aula muita coisa aconteceu e nem sempre pude me dedicar aos treinos como gostaria. Mas nunca me afastei definitivamente da Capoeira, apenas mudei a minha participação. Na reta final da faculdade e com a chegada do meu filho as coisas ficaram mais complicadas, mas a gente quando ama muito alguma coisa dá um jeito de estar sempre por perto. Assim surgiu o Blog Capoeira de Toda Maneira.

Hoje, estou 100% voltada para a Capoeira, treinando, estudando sua história, cobrindo seus eventos, divulgando grandes inciativas, valorizando seus profissionais e me sinto privilegiada por tê-la na minha vida. São tantas coisas conquistadas a partir dela, minha família, muitos dos meus amigos e até emprego a Capoeira já me deu, para quem não sabe, eu fui editora da Revista Praticando Capoeira nas suas últimas edições e também fiz alguns trabalhos freelancers para a Revista Capoeira.

Por tudo isso não posso deixar de comemorar e comemoração sem presente não tem a menor graça. Na nossa fanpage no Facebook está rolando uma promoção muito bacana. Estaremos sorteando um kit com 3 revistas Praticando Capoeira com CD.

Na semana passada publiquei um vídeo no Youtube contando sobre cada revista do Kit. Vamos conferir?



Para saber mais sobre a promoção, clique aqui e se inscreva, fique atento às regras, ok?

>> Morar ou ter endereço de entrega no Brasil
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O sorteio ocorre no dia 31 de março.

Curiosidades

Durante esses 5 anos muita gente passou por aqui, muitos assuntos foram abordados e eu separei algumas curiosidade sobre o Blog.

Você sabia que já são mais de 112.700 acessos em 109 países do mundo? E que entre os 3 primeiros lugares em acesso estão Brasil, Estados Unidos e Alemanha, respectivamente em primeiro, segundo e terceiro lugar?

Tive o prazer de entrevistar 18 mestres, traçando um perfil de cada um e contando suas histórias.

Já são 466 postagens desde que o Blog foi lançado em 2011 e as top 10 em acessos são:

 1º lugar

2º lugar
Nota de Falecimento - Professor Esquilo - *22 de Abril de 1976 + 17 de Abril de 2011 - Publicada em Abril de 011.


4º lugar
A palavra do Mestre - Capoeira é esporte? - Parte 1 - Publicada em Fevereiro de 2016.

5º lugar
Homenagem ao Mestre Peixinho - *1947 +16 de Maio de 2011 - Publicada em Maio de 2011

6º lugar
Mulheres que (en)cantam: Graduada Thati - Publicada em Novembro de 215.

7º lugar
TUF Brasil- A polêmica interminável - Publicada em março de 2012.

8º lugar
A nova edição da Revista Praticando Capoeira - Publicada em Novembro de 2011.

9º lugar

10º lugar
Nota de Falecimento - Grão-Mestre Camisa Roxa - *1944 +2013 - Publicada em Abril de 2013.

Espero por mais 5 anos de sucesso e muita CAPOEIRA!

Preciso agradecer também a Carol Bonates, pela primeira arte aqui do Blog; Contramestre Naja, pela primeira logo; Ludmila Kraichete, por uma segunda logo; Instrutora Xica, pela logo atual; e a Luiza Helena, por ter escolhido o nome do Blog.

Se você ficou curioso para conhecer as primeiras logos do Blog, clique aqui!

Aos amigos que sempre me apoiaram, não vou citar nomes para não ser injusta, muito obrigada, sem vocês nada disso seria possível!


segunda-feira, 7 de março de 2016

A palavra do Mestre - Capoeira é esporte? - Parte 2


Na semana passada postei aqui a opinião de cinco mestres sobre o reconhecimento da Capoeira como esporte. Se você não viu, clique aqui. Hoje trago a opinião de mais cinco mestres: Mestre Namorado, Mestre Ron, Mestre Mara, Mestre Kaco e Mestre Barrão.





Mestre Namorado – Ibamolé Capoeira

“Meu medo é o que virá depois. Esportes têm regras bem definidas, para competições deveria existir graduação unificada (uma só), coisa que não vai acontecer. Esse passo de se tornar esporte 'oficialmente' deve gerar obrigações futuras!

Como ensinar esporte, prescrever treinamento esportivo para seres humanos sem que seus profissionais tenham conhecimento de fisiologia, anatomia, biomecânica e etc? Isso é um assunto delicado e polêmico. 

A Capoeira merece esse status, mas muitos capoeiristas, muitos mesmo, não estão minimamente preparados para representar essa Capoeira contemporânea. Antes era fácil, qualquer um ensinava o que tinha aprendido e pronto. Temos que acordar, as coisas mudaram e preciso ser crítico, ter olhar crítico mesmo, questionar, entender que as pessoas são diferentes.


Não há receita de bolo para ensinar, temos que respeitar a individualidade biológica das pessoas, obedecer progressões pedagógicas e etc.

Na área da saúde, tudo muda muito rápido. O que hoje é um super método legal, amanhã pode ser lesivo ou letal, para isso existem milhares de artigos científicos saindo toda hora. Esse assunto ainda tem que ser digerido e discutido. Em breve devem vir mais surpresas, como cursos obrigatórios para se ensina,fiscalização do CREF e etc.”




Mestre Ron – Raízes de Vila Nova 

“Eu sou contra porque só o título de esporte acaba deixando a capoeira, que é tão rica no seu universo, muito pobre. 

A capoeira tá longe de ser apenas esporte e como muitos outros mestres, vejo que perderemos muito nesse sentido. 

Vejo esse reconhecimento com uma forma de favorecimento a alguns órgãos, que tentam há muito tempo nos prender a um regime, que tiraria dos mais antigos o valor conquistado e daria a muita gente que pouco sabe de capoeira, a igualdade perante as pessoas que temos como autoridades maiores da capoeira, que são os mestres antigos, que construíram tudo isso.”







Mestre Mara – Herança Cultural

“Bom minha opinião em relação a isso é que nossa arte perde no que diz respeito a nossa cultura, pois sendo regida pelo esporte onde fica nossa ancestralidade? A oralidade de nossa arte se limitará, ficando somente performático, com regras que muitas vezes poderão ser de pessoas que nem fazem a Capoeira.

A capoeira é cultura, sempre lutamos pela sua liberdade, não pode se limitar apenas a algumas pessoas.” 




Mestre Kaco – Rede Anca

“ O que me preocupa é saber que os interesses não estão voltados para capoeira. Eles querem é tirar proveito de algo que está estabelecido. Neste caso sou contra.”









Mestre Barrão – Axé Capoeira


“Mesmo sabendo que capoeira é uma das maiores referências culturas Afro Brasileira, também acredito que ela se encaixa no contesto esportivo, só temos que ter o cuidado para que ela não seja manipulada pela as federações e nem pelo CONFEF /CREF, dando o direito aqueles que têm formação de educação física e deixando de lado os professores e mestres que dedicaram toda sua vida a capoeira. 

A capoeira não tem dono, ela pertence a todos aqueles que a representa com seriedade."

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A palavra do Mestre - Capoeira é esporte? - Parte 1




A discussão é longa e de simples não tem nada. As opiniões estão divididas e a única certeza é o futuro incerto da Capoeira como esporte. Não sabemos o que de fato vai acontecer, mas é necessário estar atento aos prós e contras gerados por esse reconhecimento. Para ajudar você a chegar a uma conclusão sobre o tema, conversamos com alguns dos mais renomados mestres da nossa arte e perguntamos:

Qual o seu posicionamento sobre o recente reconhecimento da Capoeira como esporte pelo Ministério dos Esportes?

A cada semana você acompanha a opinião de cinco mestres. Hoje: Mestre Boneco, Mestre Caçapa, Mestre Thiara, Mestre Catitu e Mestre Franja.





Mestre Boneco – Capoeira Brasil

“Acho que ela tem espaço para ser esporte também, só não podemos esquecer que, acima de tudo, é uma arte de transformação, ela é cultura de um povo, ela é musicalidade, é ritmo, é dança, é acrobacia, é folclore, arte marcial, tudo isso misturado em uma mesma "panela"!

Dias Gomes traduziu brilhantemente a capoeira em seu poema;
"A capoeira é luta de bailados, dança de gladiadores, duelo de camaradas. Na capoeira os contendores não são adversários, são camaradas, não lutam, fingem lutar, procuram dar genialmente a visão artística de um combate, acima do espírito de competição há um sentido de beleza, o capoeira é um artista, um atleta, um jogador e um poeta ...Há neles um sentido de beleza....”




Mestre Caçapa – Capoeira Terranossa

“A capoeira está sendo aprisionada, no meu ponto de vista. Nesse momento pode parecer bom, mas mais tarde vai mostrar para o que veio. 

A capoeira é arte, é cultura e muitos estão falando que o cara para dar aulas de capoeira vai ter que ser formado em educação física, não sei se e verdade. Aí eu te pergunto, aonde está a liberdade nisso? Hoje o cara é aluno e já monta grupo, imagine esse cara formado em educação física sendo amparado pela lei. No mínimo o cara para ser formado professor é de 10 anos, para ser formado em educação física são 4 anos, tu acha que esse cara vai esperar? Mas isso e só um pouquinho do que pode acontecer. Eu sou contra. 

Outra coisa, quem deu esse poder a eles para reconhecer a capoeira como esporte? ”



Mestre Thiara – Associação Iê Capoeira


“Existem aspectos positivos e negativos. Os positivos são vários como uma maior valorização da capoeira, captação de recursos, exigência de um nível superior para os futuros profissionais da capoeira entre outros, mas a preocupação é com o aspecto cultural da capoeira, os velhos mestres. 

Como ficaria a nossa capoeira nas mãos do Confef? A capoeira é mais que um esporte, qual seria o critério deste órgão para agregar recursos? 

Embora seja formada em Educação Física, não sei se seria bom estes recursos estarem sob a direção deste órgão. Pagamos uma anuidade alta para pouco respaldo, como seria com os capoeiristas?”  






Mestre Catitu – Herança Cultural

“A capoeira é esporte sim, mais também é cultura, é arte, música, é filosofia de vida!

Ela tem que ser reconhecida com tudo isso e ter recursos em todos os âmbitos por ser um patrimônio nosso. Com isso virão os órgãos controladores. Sou contra ela ser regida e fiscalizada por esses conselhos que nada sabem dela. Os saberes da capoeira vão muito além de um diploma.

Eu sou formado em Educação Física e sou contra a capoeira ser controlada por qualquer instituição que não haja algum vínculo com nossa ancestralidade e cultura.

Viva a nossa Capoeira!”






Mestre Franja – Rede Anca

“Eu acho que a Capoeira deveria ser reconhecida como esporte, mas o pessoal que está organizando esse movimento é o pessoal da Confederação Brasileira de Desportos e eles querem pegar o monopólio da Capoeira e isso não é bacana. 

Querem controlar a Capoeira com a ajuda do CREF/CONFEF e a Capoeira é livre, não seria bacana ela ser aprisionada. A Capoeira é um símbolo de libertação. Esse movimento não é um movimento legítimo, pra nós não vai ter vantagem nenhuma. 

Querem levar a Capoeira para as olimpíadas e pra ser um esporte olímpico tem que ter um padrão e a Capoeira não tem isso. Como é que você vai padronizar uma expressão corporal? 

Ela como um esporte entraria numa pasta que tem uma grana, isso pra gente é muito importante, porque é muito difícil conseguir uma grana do governo pra ajudar você a fazer alguma coisa. Se não tivesse esse movimento que quer pegar o monopólio da Capoeira, seria bacana. Cada mestre poderia fazer o seu campeonato, com suas próprias regras e receber um dinheiro do governo. 

Esse movimento desvaloriza o conhecimento dos mestres antigos. Eu sou contra esse movimento e não contra a Capoeira ser reconhecida como esporte, mas um esporte livre! É uma politicagem, eles querem cuidar da Capoeira como se fosse deles e a Capoeira não é de ninguém. Nós Capoeiristas somos da Capoeira. A capoeira é de todo mundo, ela é livre. Ela é até de quem não pratica capoeira, mas gosta, pesquisa, estuda,  fala sobre ela.”

Na próxima semana mais cinco mestres falam sobre o tema.  Nos acompanhe nas redes sociais e fique por dentro de tudo que rola no blog Capoeira de Toda Maneira.

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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

E aí, qual a boa do final de semana?

Sexta e Sábado

Serrania/MG



Sábado

São José dos Campos/SP


Domingo

Rio de Janeiro/RJ


Tapes/RS


Rio de Janeiro/RJ


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

São José dos Campos tem vivência de Capoeira Angola no sábado


No próximo sábado (27/02) você tem um encontro marcado com a Capoeira Angola, em São José dos Campos/SP.

O Mestre Tucano Preto recebe o Contramestre Xandão, para uma vivência de Capoeira Angola. Uma excelente oportunidade para quem quer se aperfeiçoar, ou mesmo adquirir os primeiros conhecimentos em Capoeira Angola.

Contramestre Xandão é da Estância Turística de Paraguaçu Paulista e faz parte da Escola de Capoeira Angoleiros do Sertão.





Serviço:

Casa Nossa
Av. Cidade Jardim, 6313. Bosque dos Eucaliptos. São José dos Campos/SP
De 9h as 18h
Investimento: R$ 50
Informações: (12) 97150143/(11) 984854981
Organização: Mestre Tucano Preto 
Capoeira Dendê Maruô

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Contramestre Duzentos ministra oficina em Saquarema/RJ


No último sábado (20/02), o bairro de Jaconé, em Saquarema/RJ, recebeu o Contramestre Duzentos (Senzala) para a realização de uma oficina de berimbau. Pode parecer simples, mas a confecção desse instrumento, essencial para a Capoeira, é cheia de detalhes que fazem toda a diferença no resultado final.




A Instrutora Xica(Capoeira Brasil), responsável pela organização da oficina, contou como surgiu o convite, "Eu o conhecia de nome, fui a um evento e o conheci pessoalmente. Uma amiga me falou sobre as oficinas dele e eu marquei. Acho importante o aluno ter essa vivência para valorizar o instrumento.", disse.


O processo, que envolve descascar e lixar a verga, lavar, cortar e limpar a cabaça por dentro, colocar o couro na extremidade por onde passará o arame e retirar o arame de dentro do pneu, levou em torno de 3 horas para terminar. 

"Meu filho sempre me pediu um berimbau, entrava nas lojas para ver o preço e eu nunca comprei. O berimbau dele está vindo da forma mais bonita, sendo feito por ele mesmo.", disse emocionada uma mãe que assistia o filho fazendo seu próprio instrumento.

Além da oficina de berimbau, os alunos também tiveram oficina de Samba de Terreiro, com o Professor Agulha e de Jongo, com o Professor Ninho Vidigal, ambos da Senzala. 

Para finalizar do jeito que o capoeirista gosta, Contramestre Duzentos ensinou algumas movimentações e fechou com Roda de Capoeira.



Fotos e vídeos: Maíra Gomes

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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Entrevista

Mestre Flávio Saudade



De muitas palavras e ações, esse é Flávio Alex Mesquita Soares, o Mestre Flávio Saudade.
Antes de prosseguir, aviso que a formalidade aqui é minha, se dependesse do entrevistado deixaríamos os títulos de lado. O mestre me pediu em nosso primeiro contato que o chamasse apenas de Saudade, "Deixemos essa coisa de Mestre para os grandes", disse humildemente quando eu o convidei a conceder essa entrevista.
A vontade de entrevistar o Gonçalense de 38 anos surgiu ao ler o livro "A visita", de sua autoria.. A curiosidade sobre o Projeto Gingando Pela Paz, coordenado por ele desde 2008, no Haiti, também motivou o convite para essa entrevista.  Eu tinha certeza que muita coisa ainda havia pra ser dita, ou escrita, e que mais pessoas precisavam conhecer o Mestre por trás do escritor, o escritor por trás do Mestre, mas acima de tudo, dar voz ao ser humano  por trás de ambos. O resultado  é a entrevista que você confere agora.
*A entrevista a seguir foi realizada em Fevereiro de 2016 e é inédita e exclusiva do Blog Capoeira de Toda Maneira

(Maíra Gomes) - Como o senhor conheceu a capoeira?

(Mestre Saudade) - O meu primeiro encontro com a Capoeira se deu quando eu tinha em torno de 8 ou 9 anos, através de um tio, irmão da minha mãe; foi neste momento em que fui inspirado, vendo ele negaciar, pular de um lado para o outro, fazer o corta capim nas festas de família, enquanto a minha avó dizia: “deixa disso 'minino' ”. 
No entanto, só iniciei meu aprendizado na Capoeira, digamos metodizada, aos 14 anos em um projeto da prefeitura da minha cidade, São Gonçalo/RJ. Foi lá onde encontrei o meu mestre, Marcos Wagner Machado de Paula, que por sua vez foi aluno do finado mestre Gingante, criador da Negrinhos de Sinhá. Foi com o meu mestre que aprendi os primeiros passos, a ginga, que tive acesso ao universo da capoeira e onde me formei mestre. Foi com o meu mestre também que tive meu primeiro contato com o trabalho social nas inúmeras apresentações que realizávamos nas comunidades e instituições.

(Maíra Gomes) - Saudade é apelido?

(Mestre Saudade) - Saudade é apelido, mas hoje é praticamente meu nome. O nome chegou num momento em que eu estava com o tempo dividido entre trabalho e capoeira, quando comecei a atuar no Viva Rio, a princípio como voluntário (um ano), e depois como funcionário. Na verdade, o trabalho tomava a maior parte do meu tempo e a capoeira terminava ficando em segundo plano. Porém, sempre que dava eu chegava na aula, pegava uma roda. E quando estava lá sempre relembrava os momentos passados, os amigos que já não estavam mais ali... “Tempo bom, tempo que não volta mais...” 

(Maíra Gomes) - Fale um pouco sobre sua caminhada na capoeira:

(Mestre Saudade) - Bem, a minha caminhada na capoeira por muito tempo seguiu os passos do meu mestre até que eu comecei andar sozinho, como acontece naturalmente. Com o meu mestre, além do aprendizado, tive a oportunidade de conhecer grandes pessoas, homens e mulheres de valor, que contribuíram para a minha formação não apenas como capoeirista, mas como ser humano. Mestres, Mestras entre outros. Posteriormente, quando comecei a “caminhar só” (nunca estamos sozinhos) eu tive a felicidade de encontrar outros tantos que me nutriram com suas histórias de vida, com seus exemplos de vida. Não citarei nomes para não incorrer em injustiças de esquecer um ou outro. Mas, gostaria de registrar um deles que representaria tudo isso que estou tentando dizer. Trata-se de Gilberto de Andrade Oscaranha, o Mestre Oscaranha, (que já não está mais fisicamente entre nós) que levou a Capoeira para a Academia, para a Escola de Educação Física da UFRJ e que é sempre lembrado pelos seus grandes festivais onde eram reunidas diferentes representações da Capoeira e um número bem grande de participantes. Para mim ele permanece como um símbolo de abnegação e de luta por amor à nossa cultura, pela Capoeira enquanto uma instituição unida e forte, comprometida com o bem e com a paz. 
E recentemente, ao dar início a minha volta ao mundo após sete anos de atividade no Haiti, a Capoeira tem me oferecido lições maravilhosas, permitindo o encontro com outros grandes seres humanos que sem dúvida trago comigo no coração e que me fortalecem na caminhada. Porém, ainda estou engatinhando, tenho muito ainda para aprender.

(Maíra Gomes) - O que é o Projeto Gingando pela Paz e como ele foi criado?

(Mestre Saudade) - O Gingando pela Paz iniciou as suas atividades no Haiti em 2008, com o convite do Viva Rio para trazer a Capoeira para o Haiti para atender crianças participantes de um programa de reinserção de “crianças soldados”. Deixei a faculdade, emprego para vir. Não digo que deixei minha família pois os tenho comigo sempre. 
Viemos para o Haiti em 2008, porém iniciei a redação do projeto em torno de 2002/3. Eu não tinha muita experiência (há época eu atuava como assistentes para produção de eventos no Viva Rio) e tive de compreender aquele mundo, quer dizer, o mundo das ONG's, do Terceiro Setor, como funcionavam os projetos, etc. Para só então começar a escrever. No entanto, alguns elementos foram cruciais para a criação do projeto, quer dizer, me inspiraram. O primeiro foi todo o meu aprendizado enquanto capoeiristas e as diversas ações que eu já realizada com o meu mestre e nosso grupo. O segundo foi ter participado de um dos projetos oferecidos pelo Viva Rio, o Serviço Civil Voluntário, que atendia jovens em situação de risco social. Eu era um desses jovens. Com 21 anos, com o ensino fundamental incompleto, desempregado... Foi neste projeto que entrei em contato com temas como Cidadania, Direitos Humanos e trabalho voluntário. Essas informações me ajudaram a compreender melhor a mim mesmo, a minha comunidade e a sociedade; como eu poderia interagir e intervir naquela grande roda. 
No final deste projeto o Viva Rio realizou um concurso, chamado Jovens no Zimbabwe onde 4 jovens seria escolhidos para representar a cultural do Brasil (Capoeira) e a juventude da comunidade. Eu tive a felicidade de estar entre os selecionados. E essa viagem mudaria não apenas a forma com que eu via o mundo, mas como o mundo me via, sobretudo a minha comunidade. Deixei de ser aquele “que daria pra bandido”, o vagabundo, para ser aquele que conseguiu romper com uma barreira invisível que nos mantinha fechados em nosso cercado, recebendo o milho, lembrando um pouco o livro de Leonardo Boff, A Águia e a Galinha. A verdade é que hoje o acesso às informações e as oportunidades são indiscutivelmente maiores. Naquela época, com 21 anos de idade, ou sequer tinha tocado em um computador. O encontro foi justamente no Serviço Civil...
O terceiro aconteceu quando eu já estava trabalhando no Viva Rio, na área de eventos. Meu coordenador me pedira para encontrar uma faixa antiga de um projeto em quartinho pequeno, quente e cheio de material, faixas de anos! Caixas de papelão, móveis, livros e muito papel. Lembro que sequer dava para eu pisar no chão. Eu fiquei muito revoltado ao abrir aquela porta e me dar conta de que achar aquela faixa em meio a tanta coisa. Levaria dias, pensei. Foi então que decidi arrumar todas as faixas ao invés de buscar uma única. E foi durante essa trabalho que vi uma apostila sobre gestão de projetos sociais do Viva Rio. Ela saiu do meio do lixo (ou pelo menos eu achava isso) e foi direto para a cabeceira da minha cama. Quer dizer, se eu tivesse uma naquela época. 
O quarto foi o exemplo de um projeto chamado Luta pela Paz e do exemplo do seu coordenador Luke Dowdney, ser humano pelo qual tenho profunda admiração e respeito. Ele implementou na Maré um projeto com o boxe, o que nós anos depois faríamos com a Capoeira em Porto Príncipe.
E para fechar a inspiração, os inúmeros educadores e iniciativas que encontrava durante os eventos que o Viva Rio realizada nas comunidades: Maré, Ramos, Canta Galo/Pavão Pavãozinho, entre outras. Em todas elas a capoeira estava presente. E em todas elas os problemas era o mesmo: a falta de apoio. Foi então que resolvi criar um projeto que apoiasse esses educadores e que promovesse o diálogo entre eles. E ainda que o projeto não tenha recebido muito apoio há época, conseguimos emplacar alguns eventos importantes: a organização, à convite do amigo Luis Fernando Goulard, a avant premier do filme Mestre Bimba: A Capoeira Iluminada, que reuniu mais de 600 crianças no Cine Odeon e a  primeira caminhada Gingando pela Paz. Sim pela Capoeira! Sim pela Vida! que reuniu mais de 700 capoeiristas na Orla de Copabacana, pela proibição do comércio de armas de fogo no Brasil. Particularmente, considero que ali o Gingando nasceu, após alguns anos de gestação. 
Hoje o é um espaço de partilha e troca de experiência, um ambiente onde cada um ensina e aprende. Um projeto que utiliza a Capoeira para o desenvolvimento humano, pela construção de uma cultura de paz e em defesa da vida. No entanto, compreendemos a paz como um processo contínuo, um produto de cada dia onde todos são responsáveis mas que não está isenta de conflitos, mas é efetivamente a forma como lidamos e buscamos solucionar estes conflitos. 
Hoje o Gingando, cada vez mais, o Gingando vem se tornando uma escola e formação de ativistas sociais, pessoas conscientes, acima de tudo, de suas capacidades, da sua força e de suas responsabilidades para com a sociedade. E utilizamos a Capoeira Social para alcançar nossos resultados.
Falo de Capoeira Social porque a Capoeira hoje está bastante pluralizada, mas sobretudo sendo utilizada como desporto em academias com o objetivo estético. Muitas vezes os educadores não possuem um grande vínculo com seus alunos ou com a comunidade, portanto, neste sentido, a capoeira perde o seu sentido social onde o mestre é uma referencia para o seu discípulo e compartilha com ele os inúmeros momentos da sua vida, sobretudo as adversidades. Enquanto que na capoeira social não só estes laços permanecem presentes e vivos, como a relação com a comunidade é constante. A capoeira faz parte da vida da comunidade e se torna mais uma aliada para proteger as crianças das inúmeras ameaças que a sociedade apresenta, como a violência armada e as drogas, por exemplo.
Mas, abrindo mais o coração, eu diria que o Gingando é simplesmente o resultado de tudo que eu vivi, as dificuldades, o contato com a violência, sobretudo a armada, que nos levaram pessoas muito queridas, familiares, jovens. Levaram de várias formas, como vítimas ou agressores... Mas, no fundo, acho que todos terminam sendo vítimas de uma forma ou de outra. 

(Maíra Gomes) - O que o motivou a mudar para o Haiti?

(Mestre Saudade) - Eu simplesmente queria seguir um outro caminho e, acima de tudo, queria agir, não queria ficar apenas observando tanta injustiça acontecendo, tantas pessoas sofrendo enquanto eu pensava apenas na minha vida, na minha formação e no que eu iria fazer da vida, ou quem eu iria ser, ou o que eu iria ter. Ou seja, eu não quis aceitar essa massificação que a sociedade nos impõe nos obrigando a ser meras peças de uma grande máquina da produção que não serve senão para saciar a sede o capitalismo, e para isso utiliza a vitalidade das pessoas, os sonhos, a juventude, até que elas se tornem obsoletas. O Gingando foi a minha forma de contribuir para a construção de uma nova sociedade, onde esta valorizada e protegida – acima de tudo! - a vida. 
Hoje lutamos para manter os nossos núcleos no Haiti (4). A crise mundial, apesar de fazer proliferar as mazelas, termina por reduzir o apoio financeiro em muitos países onde o empobrecimento e a miserialização da pessoa humana segue alarmante. Sem dúvida que a Capoeira consegue romper com a dependência desses recursos, pois ela ativa em nós o sentimento de voluntariado, nos levando a diante ainda que as condições sejam difíceis. Aliás, quanto maior a dificuldade mais a Capoeira cresce e ganha força, adeptos. Com a Capoeira o menos é sempre mais! “O pouco com Deus é muito!...” 
Paralelamente a isso, apoiamos as ações do programa Capoeira pour la Paix (Capoeira pela Paz), que utiliza a Capoeira na reinserção de crianças desmobilizadas de grupos e forças armadas na República Democrática do Congo – RDC. Fomos convidados pela Embaixada do Brasil na RDC, aliás um exemplo que deveria ser seguido por todas as outras representações do Brasil no exterior, para fazer parte da equipe de gestão do projeto. O programa é encampado pela Unicef na região de Goma, fronteira com a Ruanda.
Compartilhamos com eles a nossa metodologia e oferecemos apoio técnico-pedagógico. O programa está crescendo bastante, indo para o seu segundo ano. Na RDC a Capoeira está se expandindo, sendo utilizada não apenas para este público, como para crianças em situação de rua ou em campos de refugiados. Quer dizer, isso é uma mostra clara de como a Capoeira, enquanto parceira da educação e promotora da paz, é uma grande aliada para a proteção de crianças, adolescentes e jovens, para garantir-lhes o direito de ser crianças e de desenvolverem as suas potencialidades com segurança, alegria e paz.
Lançamos também há poucos meses uma cooperação com a Unicef América Latina e Caribe, dentro de uma iniciativa chamada multi-país, ou seja, composto por diversos escritórios da Unicef nesta região. A cooperação objetiva implementar e fortalecer ações que utilizem a Capoeira social nestes países, de forma a minimizar o envolvimento de crianças a adolescentes com os grupos armados nestes países. Além de permitir a sistematização da nossa metodologia, estamos lançando uma rede, a Rede Gingando pela Paz para a Capoeira Social que objetiva se tornar um espaço de troca entre educadores que atuam ou que desejam atuar com a Capoeira social em seus países, em suas comunidades. Estive em El Salvador no ano passado e em fevereiro estarei na Costa Rica e Panamá apresentando a proposta para capoeiristas e parceiros em potencial. 


(Maíra Gomes) - Como sua família reagiu a essa mudança?

(Mestre Saudade) - Eles sempre me apoiaram e rezaram por mim, apesar da constante preocupação.

(Maíra Gomes) - Como a Capoeira pode ser utilizada em áreas de conflito e quais os resultados vocês vêm obtendo com ela?

(Mestre Saudade) - Eu acredito piamente que a Capoeira pode e deve ser utilizada em áreas de conflito, sobretudo nessas áreas, pois, em meio ao conflito, seja promovido pela guerra ou por catástrofes naturais a criança é um dos públicos mais vulnerabilizados e em risco. E a Capoeira é uma ferramenta muito eficaz para responder a essa necessidade. Sem falar que não é necessário muito dinheiro para fazer isso. Apenas pessoas qualificadas e com boa vontade. E neste ponto é que desejo chamar a atenção! É importante que o capoeirista compreenda o seu papel e a sua responsabilidade. Compreenda que o mundo passa por uma transição difícil e que demanda uma ação urgente, e que a capoeira deve estar à serviço da humanidade, pois ela nasceu dessa mesma humanidade. Ela não é uma deusa, como muitas vezes o capoeirista a vê, criando uma verdadeira personificação dela. Porém, sem dúvida ela desperta o que temos de mais forte em nós, nosso instinto de sobrevivência e o nosso desejo de evoluir. E como bem disse o Mestre Pastinha (que nós o tenhamos sempre conosco!) “a Capoeira é um passo no sentido da evolução”. E esta evolução passa irredutivelmente para todos e no banimento de toda forma de violência, sobretudo as guerras e conflitos armados.


(Maíra Gomes) - O senhor é coautor de "Como vencer a pobreza e a desigualdade" e autor do livro "A visita, lançado em 2015 pela Chiado Editora. O senhor sempre escreveu?

(Mestre Saudade) - A minha relação com as letras teve início após assistir ao filme Sociedade dos Poetas Mortos, com o saudoso Robin Williams. Naquele momento alguma coisa se abriu na minha cabeça e comecei a escrever feito um louco. À época as poesias românticas dominavam, porém eu também escrevia algumas coisas sobre sociedade, problemas sociais... Escrever um livro foi algo que sempre acalentei, até cheguei a tentar algumas vezes mas deixei de lado. Na universidade participei de alguns concursos de redação. No primeiro fui selecionado para compor uma publicação da Folha Dirigida e Unesco que tratava sobre como vencer a pobreza e desigualdade. O segundo foi um primeiro lugar num concurso de poesias realizado pela Faculdade CCAA em comemoração ao aniversário de morte de Machado de Assis. Ao entrar na ABL, na “Casa dos Imortais”, para receber o prêmio do concurso da Folha me trouxe ainda mais o desejo de um dia lançar o livro. Hoje tenho outros projetos em andamento e espero concluí-los em breve.

(Maíra Gomes) - Em 2010 o Haiti sofreu um abalo sísmico muito forte, essa foi a maior motivação para escrever A visita?

(Mestre Saudade) - Não, o terremoto não foi a motivação para escrever A Visita. A inspiração chegou num momento especial, em que eu havia discutido com a minha ex namorada e saí de casa para espairecer. E a medida em que eu caminhava pela rua, muito escura, eu me dei conta de que não havia ninguém. Bem, muitas ruas do Haiti são escuras, não possuem iluminação pública. Mas ainda assim as pessoas vivem suas vidas, há sempre uma barraquinha vendendo alguma coisa, pessoas caminhando. Mas naquela noite não havia sequer uma alma viva. 
Ao perceber isso fiquei preocupado, diversas coisas vieram na minha cabeça: poderia ter sido um toque de recolher, o prenúncio de algum conflito. Fiquei com medo de ser atacado. Depois comecei a pensar na minha ex, fiquei com medo de que alguém pudesse ter visto eu sair e entrasse na casa. No Haiti é costume muitas casas terem seguranças particulares armados e grandes arames farpados nos muros, como aqueles utilizados nas guerras. A preocupação aumentava a medida que eu caminhava até que senti a presença de uma criança ao meu lado. E foi suficiente para que toda aquela tensão, todo aquele medo se dissipasse. E foi só a tranquilidade voltar para que a inspiração para o livro chegasse: o Pequeno Príncipe havia visitado o seu porto, Porto-Príncipe. Voltei para a casa sem lembrar do que havia causado a discussão, baixei o Pequeno Príncipe novamente para entender porque eu havia recebido aquela inspiração, li o livro com um olhar dissecador como eu jamais havia feito das inúmeras vezes que li a obra e no final vi que o aviador havia deixado um pedido: se alguém encontrasse o seu amigo (o Principezinho) que o avisasse rapidamente. E foi simplesmente o que fiz. O título original teria sido “O dia em que o Pequeno Príncipe visitou o Haiti" porém, como não foi possível conseguir a autorização dos detentores dos direitos autorais, tive de fazer algumas modificações, sobretudo no título. Mas ele está lá, como uma criança. O engraçado é que por eu utilizar sempre o feminino, “ela, a criança”, a “criança” minha visitante, muitos terminam por acreditar que se trata de uma menina.
Bem, apesar de o terremoto não ter sido a motivação para escrever o livro, seria importante falar um pouco sobre. Foi uma grande tragédia, uma página triste da história da humanidade, mas que contrariamente demonstrou a nossa força. Muito embora o cenário tenha sido desesperador, com centenas e centenas de pessoas sob os escombros, mutiladas, uma profusão enorme de perdas, ele fez aflorar a capacidade de nós seres humanos transcendermos nossos próprios limites, buscarmos forças de onde não pensávamos encontrar e, sobretudo, deixarmos de lado as nossas diferenças e nos reconhecermos como irmãs e irmãos que somos. Porém, ele revelou também o lado mais sombrio das nossas almas; enquanto muitas pessoas estavam e chegavam para ajudar, outras se aproveitaram deste momento de dor para benefício próprio. E não apenas estrangeiros como se pode pensar. O que só me faz crer que, enquanto a solidariedade e o amor ao próximo nos irmana e enriquece, a ambição nos individualiza e empobrece. E eu vi muitas pessoas ricas naquele momento, maltrapilhas, com fome, porém com a sua dignidade intocada, carregando os corpos de seus irmãos pelas ruas em macas improvisadas.

(Maíra Gomes) - Essa experiência no Haiti mudou sua forma de ver a Capoeira como instrumento de transformação?

(Mestre Saudade) - Sim, sem dúvida. O Haiti mudou a minha forma de ver a Capoeira. Ele não só me mostrou a força que a Capoeira tem para a transformação, como me trouxe a certeza de que há esperança mesmo nos momentos mais difíceis, onde parece que não há mais saída. No Haiti foi onde realmente aprendi a ser um capoeirista em sua totalidade, dentro e fora da roda, no dia a dia, nas incertezas dos caminhos; coisa que nossos antepassados viveram no passado. E realmente foi como voltar ao passado. Muitas vezes eu me sentia como se estivesse em uma zona onde o tempo não existe, onde passado e presente se misturavam e o futuro era incerto, uma linha tênue que seria definida pela nossa atitude. E nesses momentos eu sentia a forte presença da ancestralidade comigo. Eu sempre me agarrei a eles para fazer a minha caminhada. Graças a Deus tenho conseguido e espero ter a permissão de ir mais longe, de realizar muito mais.

(Maíra Gomes) - Qual o futuro do Projeto Gingando pela Paz?

(Mestre Saudade) - Bem, estamos num momento bastante especial no Gingando. Após 7 anos de trabalho árduo, de muito aprendizado, estamos caminhando para nos tornar uma organização independente (se é que podemos usar este termo hoje). Seguramente isso exigirá muito mais trabalho e aprendizado, sobretudo para criar uma estrutura forte e democrática, onde cada um possa dar a sua contribuição para que a instituição ganhe força e muitos frutos. Felizmente temos uma boa escola, e porque não dizer, um grande pai. O Viva Rio, onde tive a oportunidade de idealizar o projeto, realmente nos permitiu nascer, crescer e agora que estamos alcançando a nossa maturidade tem nos oferecido um apoio importante para conquistarmos a nossa autonomia. E esta é uma das grandes valências desta grande instituição pela qual tenho muita gratidão e carinho. Certamente, para mim não é fácil “sair do ninho”, sobretudo por todos os anos que já estou no Viva Rio. Porém, acredito que é uma mudança necessária e que sem dúvida irá nos oferecer muitas experiências boas. A relação com o Viva Rio permanece sempre e certamente ainda iremos realizar muitas coisas juntos. 

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