segunda-feira, 21 de março de 2016

A palavra do Mestre - Capoeira é esporte? - Parte 4




Para finalizar a questão do reconhecimento da Capoeira como esporte, pelo Ministério dos Esportes, trago a opinião de mais 5 mestres: Mestre Gato, Mestre Linguiça, Mestre Flávio Saudade, Mestre Alexandre Batata e Mestre Meinha.
Se você perdeu as postagens anteriores, clique aqui, aqui e aqui para saber o que pensam os mestres Boneco, Caçapa,Thiara, Catitu, Franja, Namorado, Ron, Mara, Kaco, Barrão, Preguiça, Fumê, Toni Vargas, Adelmo e Bené.




Mestre Gato - Senzala

“Capoeira é arte popular, patrimônio imaterial cultural da humanidade, não é esporte. É uma manifestação de cultura popular, tem elementos de dança, arte marcial, música, teatro de rua, mas não pertence a um desses elementos apenas. São eles integrados que caracterizam, de forma única, a roda de capoeira e temos a obrigação de preservá-la. Ela se desenvolveu sem apoio oficial e está presente agora no mundo inteiro, atraindo interesses de pessoas que não têm nada a ver com seu contexto.”




Mestre Linguiça – Arte de Bamba

“Pra quem é capoeirista de fato, alma e de direito, Capoeira é muita coisa: cultura , luta, arte, dança, lazer, esporte, filosofia de vida e etc. Porém, para quem apenas quer usar a Capoeira, fragmentando fica mais fácil. Quem faz  no máximo 6 meses de aula na faculdade não adquire conhecimento suficiente para ensinar, mas estão ensinando.

Hoje um secretário de esportes pode captar recursos para fazer um campeonato e realizar o mesmo sem a necessidade de um mestre, contramestre ou professor de Capoeira.  pois é só comprar um CD, pegar as regras, que já estão escritas desde que foi regulamentada em 1973 pela Federação Brasileira de Pugilismo, e arrumar competidores para realização do evento. Ou seja , estão fazendo com a Capoeira o mesmo que fizeram com o carnaval. Nasceu como sendo do povo e para o povo, agora somente a elite tem participação efetiva. Assim está acontecendo com a Capoeira.”


Mestre Flávio Saudade - Coordenador do Projeto Gingando Pela Paz

"Após ser incluída no Código penal, em 1934 a Capoeira foi liberada e proclamada pelo então Presidente da República esporte nacional brasileiro. Porém, o que houve foi um golpe, uma verdadeira rasteira que limitou a Capoeira ao espaço fechado. Com isso, a sua identidade revolucionária e seu caráter institucional foram profundamente atingidos. E o que vemos hoje é mais uma tentativa de rasteira, talvez a maior delas, pois a formalização da Capoeira como esporte abriria espaço para a sua industrialização, o que atingiria diretamente a sua essência. Cresceriam as escolas formadoras de atletas, engordariam as federações e confederações, lucrariam os grandes investidores às custas da descaracterização da nossa cultura.

Porém, temos de ter consciência de que existem muitos grupos e mestres que defendem a Capoeira como esporte e desenvolvem suas atividades neste sentido. Estão errados? Creio que não. Como não estão errados aqueles que como eu defendem a Capoeira como manifestação cultural e instituição revolucionária.

Como disse Mestre Pastinha, a Capoeira é "tudo o que a boca come". Logo, cada um come o que quer. A Capoeira é plural e responde às necessidades de cada um, e certamente muitos não abrirão mão de vê-la a serviço do mercado. E acontecerá exatamente isso caso a Capoeira seja delimitada somente como esporte. E quem o faz, não o faz senão por interesses financeiros e comerciais, para este modelo capitalista que vemos hoje destruindo vulnerabilizando nações e sacrificando vidas.

Porém, precisamos, nós capoeiras, fazermos a nós mesmos uma pergunta: qual é a Capoeira que queremos? E o que desejo ser para a Capoeira? Particularmente, acredito que o papel da Capoeira e de nós capoeiras vai muito além do que defender a Capoeira, mas precisa sair em defesa de outras bandeiras, das bandeiras do povo, como o fim da violência contra a mulher, o combate à corrupção e outras tantas bandeiras sociais. Necessitamos retomar a essência da Capoeira enquanto instituição. Ontem estávamos fechados entre paredes, hoje estamos fechados neste navio que se chama internet. É preciso voltar às origens e mostrar o que realmente somos, uma grande instituição revolucionária. E isso deve partir do berço, do Brasil! Porém, para isso devemos antes deixar de ver nossas diferenças como algo que nos separa, devemos olhar para aquilo que nos une e nos torna irmãs e irmãos: a humanidade. E a nossa luta deve ser por esta mesma humanidade, que agoniza diante de uma política mundial que inverteu o sentido das coisas, criando um mundo onde reina a ganância e a sede pelo poder, nos afastou do que realmente somos e nos escravizou quando nos fez correr atrás do dinheiro a cada dia.

A Capoeira tem muito para nos ensinar pois ela é a própria humanidade em exercício. Portanto, ela vai muito além de uma prática esportiva, isso é fato indiscutível.  E é esta força que precisa ser demonstrada, não apenas contra esta medida arbitrária deste conselho, mas em todos os momentos em que a humanidade, a vida, esteja sob ameaça."





Mestre Alexandre Batata – Companhia de Capoeira Contemporânea

“Capoeira é tudo, mas nem tudo é capoeira se as intenções não forem fiéis aos atos.”






Mestre Meinha – Cruzeiro do Sul

“Em uma parte é bom para que tenhamos mais acesso a patrocínios e aprovações de editais. Em outra parte é ruim porque muitos professores de Educação Física poderão dar aulas sem experiência ou vivência no mundo da Capoeira, deixando muitos mestres com muita bagagem desempregados.

Só não concordo com este reconhecimento agora, porque já tem uma lei reconhecendo a Capoeira como desporto e patrimônio, então acho que isso é uma jogada política, sei lá, para roubarem o que é nosso e o poder, o sistema tomar conta da Capoeira. Não estou acompanhando muito esse assunto, porque acho uma desonra para quem luta sua vida toda por nossa arte e cultura e dar de mãos beijadas ao sistema”


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