MESTRE MURALHA
Associação Capoeira Manduca da Praia
Capoeirista desde a primeira infância, Daniel Edgar Maia Pereira nasceu em São Paulo/SP e lá começou seu aprendizado, sempre apoiado pela mãe.
Hoje prestes a completar 34 anos, está vivendo na Colômbia, onde mantém um trabalho que já rendeu seu primeiro CD solo.
O Mestre falou sobre tudo, sobre a carreira no MMA, sobre família e principalmente sobre sua trajetória na Capoeira.
Imperdível!
*A entrevista a seguir foi realizada em Agosto de 2012 e é inédita e exclusiva do Blog Capoeira de Toda Maneira
(Maíra Gomes) - Como o senhor começou na capoeira?
(Mestre Muralha) - Quando eu tinha 4 para 5 anos de idade, eu via o Mestre Meinha treinando na academia que era do lado da minha casa, mas não tinha dinheiro para pagar. Eu ficava todos os dias na frente da academia vendo os treinos, depois me mudei para Embu das artes, onde eu comecei a treinar no grupo do Mestre Alcachofra, com o Contramestre Paraíba, aos 5 anos de idade.
(Maíra Gomes) - Quem o apelidou de "Muralha" e por quê?
(Mestre Muralha) - O meu primeiro apelido era Limpinho, porque eu nunca me sujava na capoeira. Eu treinava muito, saltava, mas nunca me sujava. Depois quando eu fui fazer parte do grupo Abadá-Capoeira, eu fiz um teste para uma propaganda que falava que o goleiro era uma muralha, e todos da rua começaram a me chamar de Muralha. A partir daí tive que fazer jus a meu apelido, treinar, treinar e treinar, e ficou Muralha na Capoeira.
(Maíra Gomes) - Conte um pouco da sua trajetória na capoeira até chegar ao grupo Terranossa: (Mestre Muralha) – Bom, meu mestre é o Mestre Meinha do Grupo Cruzeiro do Sul, porque sempre foi o meu ídolo, desde os 5 anos de idade.
Quando eu saí do grupo do Mestre Alcachofra, a Abadá tinha acabado de chegar a São Paulo. Eu era muito novo e vi que aquela Capoeira tinha muita coisa diferente da Capoeira que eu tinha. Era mais elegante, bonita e objetiva. Eu via que tinha que treinar essa Capoeira diferente, para ter uma melhora.
Foi aí que eu falei pra minha mãe me tirar do meu antigo grupo e me colocar na Abadá-Capoeira. Depois de muitos anos treinando na Abadá, por motivos de força maior eu me retirei do grupo, buscando um novo caminho em minha vida.
Pedi a opinião pro meu Mestre Meinha, em qual grupo eu poderia me adaptar melhor e ele me falou Muzenza. Eu já conhecia o Mestre Jaguara, mas não tinha contato com ele. Através de um amigo fui falar com o Jaguara e ele me levou para Curitiba para falar com o Mestre Burguês, onde fui bem aceito no grupo.
O Grupo Muzenza e o Mestre Burguês me lançaram no mundo da Capoeira. Através deste grupo conheci toda Europa e outros paises da América do sul. Cheguei a ser Vice-Campeão Mundial de Capoeira, em um campeonato aberto que tinha vários grupos, com 2 mil participantes e fiquei em 2º lugar. Fui capa da Revista Capoeira, saí na Revista Cordão Branco, na matéria Bate Palma pra ele. Logo depois, por motivos de força maior, eu me retirei do Grupo Muzenza e me dediquei a treinar Jiu-Jitsu e MMA, onde fiz varias pelejas (lutas) na Espanha, Suécia e Rússia.
Eu já treinava tudo isso antes, mas depois da minha retirada do Grupo Muzenza, foi que eu me meti de cabeça nos treinos. Depois de 1 ano parado de Capoeira, pensando o que eu ia fazer da minha vida, montei um grupo. Manduca da Praia foi fundado no Brasil, São Paulo, fazendo e construindo uma estrutura sólida.
Saiu uma boa proposta para unir o grupo com o Mestre Cid (Presidente da Associação Terranossa de Capoeira) e fizemos essa grande união. Me sinto muito bem no grupo, tenho trabalhos no EUA, Colômbia, Peru e México e iremos abrir mais caminhos para todos do grupo.
(Maíra Gomes) - O senhor tem muitas músicas gravadas em CDS de grupos por onde passou e recentemente lançou o seu trabalho solo. Como é o processo de composição das músicas?
(Mestre Muralha) - Fazer músicas é difícil, tem que ter conhecimento da Capoeira, fundamento e ao mesmo tempo ser historiador da Capoeira. As músicas têm que ter fundamento, melodia e sentimento. Fiz vários trabalhos no Grupo Muzenza, onde me tornei famoso como cantador de Capoeira. O meu trabalho solo foi muito difícil, porque eu, como vivo na Colômbia, fiz o CD só com colombianos. Foi difícil mesmo na parte do idioma, mas conseguimos fazer um bom trabalho, que esta sendo reconhecido em todo o mundo.
(Maíra Gomes) - Quando podemos esperar um trabalho novo?
(Mestre Muralha) - Estou falando com o Mestre Cid para organizar o CD do Terranossa,
porque acho que esta faltando isso para o grupo neste momento.
(Maíra Gomes) - Como foi a decisão de sair do país?
(Mestre Muralha) - Foi difícil, mas os capoeiristas como eu, gostam de desafios e conquistas. Sempre fui uma pessoa que não tem medo de perder, porque estou preparado para perder. Se eu ganhar será melhor, mas tenho a minha academia própria aqui na Colômbia e está indo bem, graças a deus.
(Maíra Gomes) - Foi difícil se adaptar ao novo país?
(Mestre Muralha) – Sim. Foi difícil mesmo todos pegarem confiança, conhecer comida. Tudo é difícil no começo, mas depois isso vai sendo normal, vira rotina de uma vida de trabalho.
(Maíra Gomes) - Como está a capoeira na Colômbia?
(Mestre Muralha) - A Colômbia tem um ótimo nível de capoeira, bons cantadores. Claro, a Capoeira aqui está nova ainda, só tem vinte pessoas que trabalham com Capoeira, mas está em um bom caminho.
(Maíra Gomes) - O senhor é casado com a Professora Rapadura. O senhor acaba sendo mais exigente com ela, pelo fato dela ser sua esposa além de aluna?
(Mestre Muralha) – Sim, e muito, mas não confundo a aluna com a esposa. Eu acho que a gente tem que saber separar tudo na vida e saber respeitar o espaço de cada um, dentro e fora da Capoeira.
(Maíra Gomes) - Quem são seus ídolos na capoeira?
(Mestre Muralha) - Tenho vários, Mestre Meinha, Mestre Tucano Preto e Mestre Camisa. Mestre Meinha, meu mestre e meu ídolo desde pequeno. Mestre Tucano Preto, eu treinei com ele na época da Abadá-Capoeira, um amigo, uma pessoa que me ajudou muito. Mestre Camisa é uma pessoa fundamental para capoeira de hoje.
(Maíra Gomes) - Vamos falar um pouco de MMA. Como o senhor acabou se envolvendo com essa modalidade?
(Mestre Muralha) - Eu só treinava Capoeira, mas sempre estava vendo os treinos de Jiu-Jitsu e de MMA que tinha na academia. Eu tinha 14 anos de idade e tinham ido uns lutadores treinar lá com o Professor Marcos Pierine, e ele me falou que eu podia ajudar no treino, fazendo Jiu-Jitsu com eles e lutando com eles. Mas eu não sabia nada, mas mesmo assim a minha agilidade de capoeirista sobressaiu com eles que treinavam todos os dias. MMA é que já tinha lutado várias vezes, eu demonstrei que a capoeira também era luta, dando martelo, ponteira e cotoveladas. O professor de Jiu-Jitsu começou a me apoiar para treinar mais isso e hoje eu sou faixa preta de Jiu-Jitsu da Equipe Marcelo Ribas Team, de Minas Gerais e praticante de Muay Thai desde os 17 anos.
(Maíra Gomes) - Quais são os seus resultados no octógono?
(Mestre Muralha) - 19 lutas, 8 derrotas e 11 vitórias.
(Maíra Gomes) - Que outras lutas o senhor pratica para lutar MMA?
(Mestre Muralha) – Jiu-Jitsu e Muay Thai
(Maíra Gomes) - Voltando a falar de capoeira, qual a sua opinião sobre os Fights de capoeira?
(Mestre Muralha) - Eu acho bom, mas não podemos confundir um campeonato com as rodas dos eventos. Muita gente gosta de dar espetáculo nos eventos, isso está errado. Temos que pensar bem antes de fazer isso. Eu acho que tem momentos certos, onde os guerreiros devem guardar as armas de guerra para trazer boas energias e paz. Para isso temos que ter também esse evento de Capoeira Fight, mas temos que preservar também as técnicas de nossa arte Capoeira.
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