Inspiração de muitas cantigas de nossas rodas, a morte de Mestre Pastinha abalou a todos, mestres, alunos e apreciadores da nossa arte.
Toda Bahia Chorou(Boa Voz)Toda Bahia chorouToda Bahia chorouNo dia em que a capoeira de angolaPerdeu seu protetorMestre Pastinha foi emboraOxalá quem o leveouLá pras terras de aruandaMas ninguém se conformouChorou general, meninoChorou mocinha, doutorPreta velha, feiticeiraOgãns e BabalaôBerimbau tocou IunaUm toque triste de morteE a capoeira foi jogadaAo som da triste cançãoDa boca do mandingueiroDe dentro do coraçãoE não houve na BahiaQuem não cantasse esse refrãoIê, vai lá meninoMostra o que o mestre ensinouMostra que arrancaram a plantaMas a semente brotouE se for bem cultivadaDará bom fruto e bela flor
Uma história fascinante do menino franzino que aprendeu Capoeira pra se defender, mas suas histórias se misturaram de tal forma que falar de Capoeira e não falar de Mestre Pastinha é no mínimo cometer uma gafe, para não dizer coisa pior. Seu Pastinha era ( e ainda é) a própria Capoeira.
Principal responsável por manter as tradições da Capoeira Angola em meio ao encantamento que a Regional de Seu Bimba causava, Mestre Pastinha mostrou ao mundo o que aprendeu com o Mestre Benedito e que a vida se encarregou de aperfeiçoar.
Sua missão era manter viva a essência e a tradição, e ele o fez com maestria. É claro que a Capoeira conheceu outros grandes Mestres, como Waldemar, Cobrinha Verde, entre outros. Mas o que tornou Mestre Pastinha um ícone da Capoeira Angola?
Ele institui um modelo que perdura até hoje entre Angoleiros de todas as partes. Ele acreditou que a Capoeira poderia mais e para isso era preciso organizar.
Mesmo sendo responsável pelo crescimento da Capoeira Angola, Mestre Pastinha viveu momentos miseráveis até sua morte. Grande articulador de pensamentos, amargou uma cegueira, que não o impediu de "ver". Recentemente ouvi um relato do Mestre Claudio Danadinho (Grupo Senzala) sobre uma vez em que esteve na Academia de Mestre Pastinha. Mestre Claudio Danadinho jogava descalço, pois não conhecia as regras de jogar sempre calçado e de camisa nas rodas de Mestre Pastinha. O anfitrião já estava cego, mas isso não o impediu de saber que havia alguém jogando descalço na roda, ele parou o jogo e disse o que todos já sabiam, "tem alguém jogando descalço". Mestre Claudio Danadinho se acusou, mas ouviu do Mestre que errados estavam seus alunos, que não ensinaram ao visitante as regras da casa.
O fim de sua vida foi marcado por traições, o Governo lhe tomou a Academia, sua principal fonte de renda, e transformou-a em restaurante, deixando a míngua o Mestre a quem eles tanto exploraram em fotografias, eventos e apresentações.
Jorge Amado, amigo de todas as horas, e alguns poucos amigos ajudavam a manter as necessidades básicas de alimentação e moradia. Ainda assim, ele acreditava que teria sua academia de volta, afinal disseram que era só uma reforma no velho prédio.
Até sua condição de mestre foi contestada pela imprensa. Uma covardia imensa contra aquele que mesmo cego jogava Capoeira. E ele devolveu na mesma moeda, quando declarou ao jornal A Tarde ser sabedor da sua condição "Engraçada a vida. A fama chegou pra mim(..) No principio sentia uma vaidade e pensava: formidável, todos falam de mim, um mulatinho filho de escravo. Terrível é descobrir que tudo isso é falso. A única coisa real foi a Capoeira."
Passou seus últimos dias no asilo Dom Pedro II, pois sua companheira vivia do Acarajé que vendia e não conseguia tempo para manter os cuidados, nem dinheiro suficiente para comprar seus remédios. Lá ele morreu.
Abaixo um vídeo onde o próprio Mestre conta parte de sua história.
Imagens do Google
Muito triste saber que alguém tão importante teve uma vida tão dura. Mas a história se repete né? Muitos mestres áreas diferentes, terminaram a vida na miséria. Queria ter conseguido ver o vídeo, mas não rodou aqui pra mim... Parabéns por essa iniciativa! O blog está muito legal!
ResponderExcluirOi Milak, o vídeo está no youtube, tenta assistir por lá...bjos e obrigada!
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