Hoje nós temos a terceira parte da série sobre graduações que começamos aqui no Blog. Caso você tenha perdido, na Parte 1 o Mestre Alexandre Batata deu uma verdadeira aula sobre as graduações na Capoeira, desde os primórdios até os dias de hoje. Já na Parte 2 , temos a opinião de 6 grandes mestres sobre o tema.
Vamos lá?
Mestre Catitu – Herança Cultural
"Desde que me conheço como capoeira ouço falar em unificação e padronização no sistema de graduação.
Na minha visão seria muito importante e interessante a padronização única da graduação, mas, por outro lado, vejo que a capoeira é muito mais forte do que qualquer tipo de padrão imposto!
Sua diversidade, raízes e tradições se entrelaçam e isso acaba sendo muito mais forte de que qualquer coisa imposta.
O que me deixa triste é a criação exacerbada, sem origem e fundamento nas graduações que vem surgindo a cada dia!"
Mestre Chacal – UBADAC
"Na minha opinião tinha que existir apenas dois sistemas de graduação: corda, do sistema mais antigo, que é a senzala e cordel, do sistema do Mestre Mendonça. Mas o que acontece é que cada grupo que é montado com pessoas desqualificadas inventa uma graduação, porque não pode seguir o sistema que já existe porque vai ser criticado. O cara sai de um grupo corda azul de graduado e quando encontramos ele novamente ele está com uma corda, exemplo, roxa e laranja, aí fala que é a corda de professor do grupo dele, porque se ele colocar marrom a galera vai criticar e a roxa e laranja ninguém entende e sabe o que é, aí ele passa batido nas rodas. Esse é o meu ver.
Enquanto alguns, veja bem, alguns Mestres antigos apoiarem esses meninos que ficam sem Mestres porque não querem seguir uma orientação e acham que sabem tudo, a Capoeira vai ficar essa bagunça. Cada menino que sai do seu grupo, monta um grupo, cria uma graduação maluca e tem um Mestre que vai lá e apoia.
Hoje chego nas rodas e não sei mais quem é Mestre e quem é aluno, porque em um grupo a corda é de Mestre e no outro grupo a mesma corda é de aluno."
Mestre Namorado – Ibamolé Capoeira
"Eu acho esse assunto polêmico. Assim como a própria história da Capoeira tem suas “vertentes ou versões”, as tradições regionais (angola, regional, capoeiragem) desde seu início existiram caminhos diferentes, maneiras, hierarquias, heranças culturais e pontos de vistas variados. Como unificar, padronizar as graduações? Quem cederia? Dos milhares de grupos, qual tem razão e por que? A Senzala vai mudar sua graduação, Muzenza, Abadá, Capoeira Brasil, quem daria o braço a torcer?
Teria que existir um grande congresso, com seminários, palestras, muita resenha, historiadores respeitados, líderes da Capoeira, estudiosos, um grande debate teria que ocorrer. Aqui é Brasil, todos querem priorizar seus próprios interesses, crenças, ideais.
A Capoeira é rica, vasta, possui contextos lúdicos, pedagógicos, culturais, esportivos, eu, particularmente cederia a uma grande mudança, verdadeiramente discutida e votada pela “tribo” da Capoeira. Uma decisão dessas engloba existir uma grande federação, associações sérias e preparadas, coisas distantes. A Capoeira é a cara do Brasil, cheia de jeitinhos, política, apadrinhamentos, interesses diversos, corrupção e etc.
Não vejo tão cedo existir a tal unificação. A vaidade é mais um contratempo."
Mestre Buiu – Rede Anca
"Na minha opinião deveria sim, com certeza. Como forma de respeito a nossa arte, como ética esportiva, para que nossa arte tenha um pouco mais de respeito nos seus fundamentos, deveria. Penso dessa forma, as graduações devem ser unificada sim para um bem maior de toda a massa capoeirista."
Mestre Caçapa – Capoeira Terranossa
"Hoje na Capoeira tem muita gente querendo ter sem poder e gente dando sem ter. Banalização total da Capoeira e de seus fundamentos. A maioria dos mais antigos apoiam isso e não estão dando valor a sua própria história. Estão apadrinhando grupos, ex-alunos e alunos dos outros, com isso as graduações tomam formas e cores diversas, sem controle. Seria bom um sistema único de graduação, mas, com isso, vem várias outras questões. Resumindo, a Capoeira está perdendo o controle, o dinheiro está falando mais alto, o capoeirista está perdendo o sentimento, o coração já não bate mais como antes. Eu estaria disposto a seguir um padrão universal."
Mestre Franja – Rede Anca
"Essa variedade de graduações que tem na Capoeira é bem característico. Só capoeirista que consegue entender esses sistemas e leva tempo para você aprender. Como somos diferentes das outras artes, não tem nada de parecido com a Capoeira nas outras artes, as pessoas acabam entendendo que é uma coisa pejorativa e, na realidade, eu acho até bom, porque só consegue entender essa variedade quem é da Capoeira há muito tempo, que se dedica e realmente quer entender a Capoeira. Não vejo problema nenhum, pelo contrário, acho isso bacana, não acho pejorativo. Cada um tem a liberdade de usar a graduação que quer. Perante as outras lutas somos novos ainda, não dá para comparar. A Capoeira tem uma organização diferente, começa pela roda, pela musicalidade, não dá pra ficar comparando. Geralmente quem fala sobre esse monte de graduações compara com outras lutas, que possuem uma só graduação. Muitos querem que tenha um sistema só, mas eu acho que como a Capoeira, ela não é de uma pessoa só, não é só de uma maneira, ela tem a cara do brasileiro, somos diversos.
Não entendo no que vai melhorar a Capoeira em ter um sistema único de graduação ou se eliminar a graduação. Quando você unifica, ou padroniza, a Capoeira perde muito com isso. A Capoeira foi feita como uma luta de libertação, é livre, é liberta, a Capoeira é para se libertar e no momento que você padroniza ou unifica só em um sistema a gente está cortando todas as vantagens que a Capoeira tem sobre as outras artes. Eu não gostaria que acontecesse isso nunca na Capoeira. Talvez eles pensem que unificando a graduação seria uma maneira de organizar a Capoeira e eu não acredito nessa ideia. A Capoeira tem uma organização única e exclusiva dela, que não dá pra gente comparar com as outras. Então, unificar, colocar regra, ou um único sistema, a gente como capoeirista vai perder muito com isso e não vai somar nada para que a Capoeira se torne mais do que ela é. Isso não significa que não devamos nos organizar. Organizar não quer dizer padronizar, nem unificar, significa melhorar o que já existe, ou dar novos rumos para aquilo que já existe, que é a Capoeira. Lembrando que essa é a minha opinião e não a da Rede Anca, dentro da instituição também temos esse conflito, uns querem, outros não."
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que você acha sobre isso?