No início do século XX a marinha de guerra do Brasil tratava os marinheiros como escravos, o incentivo para o trabalho eram os castigos corporais que recebiam de seus superiores. Apesar dessa prática ter sido proibida logo após a proclamação da república, no ano seguinte, 1890, voltaram a ser comuns e até recomendadas para castigar faltas graves. As faltas leves eram punidas com prisão e alimentação restrita a pão e água. Indignados com essa situação, cerca de dois mil marinheiros dos navios de guerra Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro se amotinaram e um massacre se iniciou.
João Cândido foi indicado pelos demais marinheiros para assumir a liderança da revolta. Após controlar a situação e cessarem as mortes, os navios de guerra posicionaram seus canhões para a cidade do Rio de Janeiro. Eles exigiam o fim dos castigos físicos na marinha de guerra do Brasil.
Revolta da Chibata foi inspirada em revolta Russa
A Revolta Russa de 1905, teve um episódio em que marinheiros do Couraçado Potemkim se amotinaram para lutar contra as péssimas condições a bordo do navio.
Recém chegados da Europa onde estavam sendo construído dois novos navios de guerra, acabaram influenciados pelos marinheiros da armada imperial Russa, assim como pelos marinheiros britânicos.
Ao retornar ao Brasil João Cândido reuniu um comitê para organizar a revolução.
Porém, a revolução acabou sendo antecipada por causa das 250 chibatadas aplicadas ao marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes que feriu um Cabo com uma navalha. Então no dia 22 de Novembro de 1910, marinheiros amotinados mataram 4 oficiais.
Nascido no Rio Grande do Sul em 24 de Junho de 1880, João Cândido ingressou na marinha aos 15 anos e lá ficou por mais 15, quando, por ocasião da Revolta da Chibata, foi expulso.
João Cândido ficou conhecido nos jornais da época como "Almirante negro" e após ser expulso da marinha por ser considerado perigoso, viveu como estivador e descarregando peixes na Praça XV.
João Cândido morreu aos 89 anos na miséria.
Apesar da censura, o Almirante negro recebeu uma homenagem de João Bosco e Aldir Blanc
Composta nos anos 1970, a música O Mestre Sala dos Mares sofreu diversas modificações até passar pela censura. Observe abaixo as diferenças entre a versão original e a que ficou conhecida.
O Mestre Sala dos Mares
(João Bosco / Aldir Blanc)
(letra original sem censura)
Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo marinheiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o almirante negro
Tinha a dignidade de um mestre sala
E ao navegar pelo mar com seu bloco de fragatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas
Rubras cascatas jorravam das costas
dos negros pelas pontas das chibatas
Inundando o coração de toda tripulação
Que a exemplo do marinheiro gritava então
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias
Glória à farofa, à cachaça, às baleias
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais
Salve o almirante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais
Mas faz muito tempo
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O Mestre Sala dos Mares
(João Bosco / Aldir Blanc)
(letra após censura durante ditadura militar)
Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas
Rubras cascatas jorravam das costas
dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que a exemplo do feiticeiro gritava então
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias
Glória à farofa, à cachaça, às baleias
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais
Salve o navegante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais
Mas faz muito tempo
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Veja a maravilhosa interpretação da "Pimentinha", Elis Regina.
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