terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Entrevista

Mestre Chacal
ONG UBADAC


Nascido em 08 de Maio de 1971, em Belford Roxo/RJ, Anderson Claudio da Silva Vaz começou a Capoeira em 1982. Dez anos depois já ministrava aulas e de lá pra cá fez desse ofício sua vida.
Desconfiado, no começo achou que o apelido de Chacal era uma forma de fazer piada com sua fisionomia, mas hoje reconhece as semelhanças de temperamento que fizeram com que lhe dessem esse apelido.
Não é de fazer média, aqueles que o acompanham nas redes sociais sabem bem que nada foge aos seu comentários. Quem o conhece das rodas de Capoeira sabe do seu bom humor e de sua presença certa onde os amigos precisam dele.
Através da ONG UBADAC vem mudando a vida de muitas pessoas, dentro e fora da Capoeira. Um exemplo de como podemos fazer a nossa parte para mudar o mundo em que vivemos.
Vamos conferir um pouco mais sobre o Mestre Chacal?
*A entrevista a seguir foi realizada em Novembro de 2015 e é inédita e exclusiva do Blog Capoeira de Toda Maneira

(Maíra Gomes) - Como a capoeira entrou na sua vida?


(Mestre Chacal) - Conheci a capoeira através de um cara chamado Cristóvão, que ficava fazendo Capoeira no campo e eu ficava olhando, aí ele me chamou para ver uma roda de Capoeira do Mestre dele, Mestre Baianinho. Aí foi amor à primeira vista, entrei pra Capoeira e nunca mais me afastei.

(Maíra Gomes) - Sua família incentivou sua carreira de capoeirista?

(Mestre Chacal) - No início foi um pouco complicado, mas graças a Deus hoje em dia todos me dão o maior apoio. Tinha um Primo que fez Capoeira uma época, mas parou. Hoje em dia minhas filhas fazem as vezes, não sou de ficar chamando elas pra treinar. Deixo-as a vontade. Elas treinam quando querem.  
 
(Maíra Gomes) - Quem te apelidou de Chacal?

(Mestre Chacal) - Eu era muito menino e nem me lembro quem me deu o apelido. Começaram a me chamar e no início eu não gostava e nem sabia o que significava, mas depois fui me acostumando.  O apelido veio porque tinha outro aluno com o apelido de Lobo e nós brigávamos muito e aí que começaram a me chamar de Chacal. Falavam que eu era parecido com um Chacal, porque era muito magro e brigão. Eu só tinha 12 anos e achava que era algum bicho muito feio, porque geral ficava me chamando e eu achava que era pra zoar. Antigamente não tinha essa tal de Internet, que você tira as suas dúvidas e fiquei muito tempo bolado sem saber o que era. Porque algumas pessoas falavam  "Chacal é um lobo", e eu, menino, não acreditava, porque falavam pra mim sorrindo, aí eu ficava mais bolado ainda. Mas com o passar do tempo eu descobri o que era e vi algumas fotos e até que o Chacal é bonitinho, o animal (risos).

(Maíra Gomes) - Conte um pouco da sua trajetória.

(Mestre Chacal) - Comecei Capoeira no ano de 1982 com o Mestre Baianinho no Grupo Maior é Deus  e Grande e Pequeno Sou Eu, onde fiquei até o ano de 1994, chegando até o cordel amarelo e azul. Na época, o Mestre Baianinho se afastou da Capoeira por um tempo e fui procurar outros grupos pra treinar e treinei uma época com o Mestre Candengo do Grupo Capoeira Carioca e com o Mestre Azulão na época Grupo Senzala e fui convidado pelo Mestre Pará para ir treinar no ABADA-CAPOEIRA com ele, mas o Mestre Camisa mandou eu ficar treinando com o Mestre Nagô e assim eu fiz. Fiquei treinando de 1996 à 2001, quando saí para treinar com o Mestre Farmácia da UBC-CAPOEIRA, com quem fiquei até 2011.
 

(Maíra Gomes) - Por que decidiu fundar a ONG UBADAC?

(Mestre Chacal) - Eu fundei a ONG UBADAC no dia 03 de fevereiro de 2003, para podermos ter uma instituição capacitada a ir buscar recursos e projetos. Ao contrario de um Grupo de Capoeira, que as pessoas acham que por que são Mestres, Mestrandos, Contramestres, Professores têm que fazer parte da diretoria do grupo, na ONG UBADAC os diretores têm qualificação na pasta que são diretores. Porque ela não visa somente a Capoeira. Ela visa todas as áreas de desporto, esporte, cultura, lazer e educação. Temos que ter pessoas que realmente entendam do que se trata e não apenas ocupando uma pasta de diretor porque tem uma graduação na cintura. 
Quero também deixar bem claro que, ao contrario do que muitas pessoas falam, que eu sai da UBC-CAPOEIRA pra criar a UBADAC, ela já existia há muitos anos, antes da minha saída da UBC-CAPOEIRA. 

(Maíra Gomes) - Que atividades são oferecidas ao público na sede?

(Mestre Chacal) - Hoje nós oferecemos na sede da UBADAC: Capoeira, Judô, Muay Thai, Dança de salão, Aeroboxe e Ginástica. E temos  vários núcleos fora da sede que oferecem outras atividades e hoje oferecemos até Hidroginástica.

(Maíra Gomes) - O senhor trabalha com outras coisas além da Capoeira?

(Mestre Chacal) - Trabalho com a Capoeira, na administração da ONG UBADAC e como assessor do Vereador ZZ da Crajubar.

(Maíra Gomes) - O senhor é conhecido não só pelo seu trabalho, mas também pelo jeito autentico com que lida com as diversas situações da vida de Capoeirista. Prova disso são suas postagens nas redes sociais, quando demonstra sua opinião, as vezes de forma polêmica, Essa postura já trouxe algum problema?

(Mestre Chacal) - Eu sempre falo o que penso e nem sempre as pessoas estão preparadas para ouvir o que nós realmente pensamos. As pessoas estão acostumas a escutar apenas elogios e não críticas. As vezes as críticas que recebo me ajudam mais a crescer do que os elogios. Temos que olhar o que nos criticam e tentar acertar, não tampar os olhos e ouvidos e fingir que não aconteceu nada. 
Vejo muita trairagem no mundo da Capoeira, o cara te abraça, te chama de amigo e quando você vira pro lado o cara fala mal de você. Quem me conhece sabe que eu falo o que penso na cara, a pessoa gostando ou não. Assim faço alguns amigos e faço também alguns inimigos. Mas ninguém nunca vai poder me chamar de traíra, porque se alguém for falar pra ele que eu falei alguma coisa dele, ele mesmo vai dizer que eu já tinha falado pra ele antes. 
A Capoeira pra mim é um assunto muito sério porque tudo que estamos fazendo hoje vai fazer o bem ou o mal para o futuro da Capoeira. E hoje tem muita gente brincando e fingindo ser capoeirista. Hoje tem um monte de cara que está de passagem na Capoeira, fazendo um monte de merda, sabe por que? Porque amanhã eles vão estar em outra luta, ou fazendo outra coisa. Não tem compromisso e nem comprometimento com a Capoeira. Enquanto está dando dinheiro eles estão nela, a hora que a coisa apertar um pouco ele larga a Capoeira e vai ser motorista de ônibus, ou fazer qualquer outra coisa e o pior que ainda sai falando mal da Capoeira.
As vezes uso a rede social para expor algumas coisas que tentam esconder de todos e com essas minhas atitudes, de mostrar o que esta acontecendo na capoeira acabo conquistando alguns desafetos, mas o mais importante pra mim é a Capoeira.

(Maíra Gomes) - O senhor é casado? Tem filhos?

(Mestre Chacal) - Sim e tenho duas filhas. Elas fazem Capoeira, mas são turistas. Fazem quando querem, não chamo pra treinar, as deixo bem à vontade. 

(Maíra Gomes) - O que incomoda o senhor na Capoeira hoje?

(Mestre Chacal) - O que mais me incomoda no mundo da Capoeira é o cara que para de Capoeira por 20, 30 anos e volta pra Capoeira contando o tempo parado, colocando altas graduações na cintura e querem ser respeitados. E o pior ainda é que tem alguns desses caras que saem distribuindo cordel e cordas pra todo mundo. Pegam um monte de caras que começaram a Capoeira agora e dão cordel de instrutor, contramestre e até de mestre. Fazem isso por dinheiro e por vaidade, pra dizer que têm alunos. Porque ficaram anos longe da Capoeira e não têm um aluno, aí pega um bando de caras perdidos na Capoeira e dão graduações pra todos eles.

(Maíra Gomes) - O senhor tem alguém em quem se espelha como líder, ou como capoeirista?

(Mestre Chacal) - Seria uma covardia minha colocar apenas um nome aqui. Porque passando 33 anos no mundo da capoeira eu tive a oportunidade de conhecer e conviver com grandes Mestres. E com certeza eu me espelhei e me espelho em cada um deles. Tudo que eu sei, e se hoje eu sou quem eu sou, eu tenho que agradecer a todos eles.

(Maíra Gomes) - Para terminar, o que hoje precisa mudar na Capoeira?

(Mestre Chacal) - A Capoeira é um camaleão, ela muda conforme a razão. Quem precisa mudar não é a Capoeira e sim o capoeirista.


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