Nossa história - As Maltas do Rio de Janeiro

Por Antonio Liberac

Doutor em História Social pela Unicamp, professor de Historiografia no Centro de Artes, Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros do Recôncavo da Bahia.

As maltas de capoeiras são entendidas enquanto grupos sociais produtores de cultura específica que os reúne.  As maltas de capoeiras surgiram, com maior intensidade na cidade do Rio de Janeiro da primeira metade do século XIX, sendo assim um fenômeno urbano.  Porém podemos encontrá-las em documentação histórica referente a outras cidades do Brasil, como no Maranhão, Belém do Pará e na Bahia, principalmente em Salvador e no Recôncavo da Bahia.

As maltas a primeira metade do século XIX eram formadas por escravos africanos de diversas etnias, como os angolas, cambindas, monjolos e congos.  Logo no início da segunda metade do século XIX as maltas já estavam repletas de escravos nacionais, homens livres negros, brancos portugueses, italianos, espanhóis, trabalhadores de diversos ofícios e algumas mulheres. As maltas permaneceram até as primeiras duas décadas do século XX quando foram reprimidas pelo sistema republicano e sua prática enquadrada no artigo 402 do código penal de 1890.

O processo de repressão obrigou os praticantes da capoeira a inventarem novas tradições culturais, estabelecendo laços com grupos sociais diferenciados, transformando-a em esporte e arte.  Na segunda metade do século XX, as influências do modelo da capoeira baiana chegaram ao Rio de Janeiro se impondo como hegemônica e universalizando os praticantes, os quais nesse universo criaram características específicas na formação de cada grupo, a expandindo-a pelo mundo, enquanto cultura negra, cultura nacional brasileira e símbolo étnico.

Antonio Liberac é autor do Livro Culturas Circulares - A formação histórica da Capoeira contemporânea no Rio de Janeiro.

Mais do que recomendado, o Livro é leitura obrigatória a todos que querem entender o desdobramento histórico gerado pela repressão que a Capoeira sofreu durante tantos anos.