quinta-feira, 22 de março de 2018

Sete anos já se passaram e agora?

Arquivo


Rio de Janeiro, Brasil

O Blog completou sete anos de existência no dia 11 de março. Muito obrigada pela sua companhia durante esse período, pela participação e contribuição. Fácil ou não, chegamos até aqui.

Ok, já foram sete anos e o que vem agora? 

Sinceramente? Não sei. As vezes penso que meu trabalho já não tem mais relevância, ou que não é o que o público quer ler/ver. Quando esse espaço foi criado eram poucos os canais que tratavam exclusivamente de Capoeira. A realidade hoje é outra, existe muito conteúdo bom por aí, que faço questão de acompanhar e incentivar, há espaço para todos. No entanto, existem também trabalhos que recebem mais atenção do que deveriam. 

A maior parte do conteúdo que as pessoas compartilham em grupos do Facebook, por exemplo, é sobre si mesmos: vídeos fazendo movimentos; autopromoção; um monte de polêmica besta que em nada acrescenta porque não traz reflexão, apenas briga de egos; fotos que mostram mais corpos do que Capoeira em si; vídeos polêmicos que têm o único objetivo de julgar o outro e etc. Isso diz muito sobre que conteúdo essas pessoas querem receber em seus feeds.

Muitas coisas me chatearam ao longo desses anos, uso do conteúdo  do blog de forma indevida, o uso do nome do blog por outra página no Facebook, o que dificulta o crescimento da fanpage (e me obrigou a alterar um pouco o nome para tentar diferenciar da outra, já que o diálogo não funcionou), uso de parte da nossa logo por grupos recém criados, entrevistas frustradas, mas nada é pior do que  não conseguir terminar uma matéria por escassez de informação.

Falando/ Escrevendo assim parece que nada valeu a pena, mas muito pelo contrário, fiz amigos, conheci gente incrível, tive acesso a histórias emocionantes, conheci todos os meus ídolos vivos e tive orgulho de mim, sem falsa modéstia, ao perceber que pessoas que eu tanto admiro confiam no meu trabalho. Ouvir um elogio pelo seu trabalho simplesmente não tem preço, principalmente por ser um trabalho feito na marra, sem patrocínio, sem anunciantes, contando com os amigos para tudo, especialmente na divulgação.

O que espero que trabalhos como o meu possam gerar?

Espero que no futuro seja possível encontrar com facilidade informações sobre todos os grandes capoeiristas da nossa época. Hoje, isso não é uma realidade. É muito difícil encontrar informações precisas sobre os mestres mais antigos da nossa capoeiragem. Há pouca ou nenhuma documentação, muita controvérsia, enfim, cada vez que resolvo traçar o perfil de um mestre é uma luta por informações confiáveis.  São muitos grupos espalhados pelo mundo e muitos capoeiristas com apelidos repetidos ou parecidos, o que as vezes pode causar uma pequena confusão. 

Estou tentando fazer a minha parte, com toda minha curiosidade e ânsia pela história da Capoeira. Sempre correndo atrás de uma entrevista nova, batendo papo com os mestres em eventos e rodas,  gravando tudo que posso para não escapar uma só palavra e, ainda assim, me sinto em dívida porque as vezes o desânimo bate e o blog acaba sem atualizações por um bom tempo, mas nunca é o fim e espero que nunca seja.

Todo esse rodeio é pra dizer pra vocês o quanto é importante registrar e documentar o conhecimento que nossos mestres nos passam todos os dias, porque é triste pensar, mas o ciclo da vida é o mesmo para qualquer ser vivo, todos nós vamos partir um dia. Não permita que a história da Capoeira se perca. Dê ao seu mestre o devido valor em vida, de forma que o nome dele não seja esquecido.

Você não precisa ter um blog ou publicar na mídia tradicional, nada disso. Preocupe-se apenas em estar ao lado do seu mestre, registrar em fotos e vídeos, ouvir suas histórias, levar o nome dele com responsabilidade pelos lugares que você passar. Repasse a história dele aos outros membros do seu grupo, torne pública a relevância dele para a Capoeira. 

Nós somos guardiões da existência dos nossos mestres. É sua responsabilidade continuar o trabalho que ele começou e impedir que o nome dele seja apenas mais um em um amontoado de nomes sem história.

       

terça-feira, 20 de março de 2018

O que torna um evento inesquecível?































Rio de Janeiro, Brasil.

Imagem de arquivo
Lembro da primeira cobertura de evento que fiz para a  Revista Praticando Capoeira. Eu era editora da revista há pouquíssimo tempo, já tinha o blog, mas, aquela experiência era completamente nova para mim.  Eu estava representando uma empresa que eu admirava há muito tempo e não só o blog, criação minha, que não tinha tanto alcance naquela época.

Lembro de chegar ao evento da Senzala, o primeiro após o falecimento do Mestre Peixinho, e ficar impressionada. Meus ídolos estavam quase todos ali, uma massa de capoeiristas de várias partes do mundo em sintonia, as apresentações culturais, aula de jongo e uma das imagens que mais me marcou, Mestre Suassuna encantando a todos com o seu berimbau.

Esse evento é um dos mais marcantes da minha carreira de jornalista. Não só por ter sido o primeiro, havia muita coisa ali que só vivendo para poder entender. Como Capoeirista tenho muitos outros  eventos de destaque, em especial os que participei, seja como aluna ou ajudando na organização.

O que faz de um evento um bom evento? A organização, a energia e, obviamente, o material humano presente na roda. Esses são os elementos primordiais para um evento de qualidade. Mas o que diferencia um bom evento de um evento inesquecível, marcante? 

As respostas podem variar de acordo com o gosto de cada um. A única certeza que temos é que os profissionais de Capoeira têm se preocupado cada vez mais em encontrar esse toque a mais que torna um evento "o evento".

É uma tendência mundial que, ao menos uma vez ao ano, um núcleo de treinamento realize um evento com  dois a três dias de duração. Isso quando não dura mais de uma semana, exemplos não faltam. Nessas ocasiões são oferecidas oficinas, rodas de conversa, palestras, aulões,  shows e é claro, as trocas de corda, formaturas e batizados.

Essa propensão a eventos de longa duração é uma realidade para grupos e associações de todos os tamanhos. O capoeirista quer mais do que aprender a prática da Capoeira, ele quer fabricar o próprio instrumento, ter conhecimentos históricos e fundamentos de preferência extraídos da fonte, ouvir quem viveu e ainda está aí para contar.


Profissionais se adaptam a essa nova realidade


Um exemplo de como essa procura por um diferencial se aplica é o surgimento de um novo mercado, profissionais que vem se especializando em ministrar cursos, palestras, ou em fazer apresentações culturais em eventos pelo Brasil e pelo Mundo.

 Mestre Marcos China ensinando a confeccionar o Caxixi/Arquivo pessoal


Mestre de Capoeira, percussionista e dono da PAMC Instrumentos, Mestre Marcos China é um dos precursores da Capoeira na Europa e seus instrumentos artesanais fazem sucesso no Brasil e no exterior. Prova disso é que você provavelmente já viu a logomarca da PAMC em alguma roda por aí, seja de Capoeira ou de samba.


Trabalhando com a fabricação de instrumentos de percussão há mais de 40 anos, Mestre Marcos China percebeu que a demanda para esse tipo de atividade vem aumentando muito e desenvolveu novas abordagens, "A oficina de fabricação de caxixi, por exemplo, pode ser feita por crianças e adultos, inclusive, pais e filhos. Uma forma de envolver os pais que não praticam Capoeira no universo dos seus filhos. E é o maior barato vê-los saindo felizes com o caxixi fabricado por eles mesmos.", contou.

Outro grande destaque em eventos de Capoeira são as apresentações culturais, que muitas vezes são feitas pelos próprios alunos que ensaiam durante meses para se apresentarem para os familiares e amigos. No entanto, a existência de grupos especializados em apresentações culturais é algo que vem crescendo, o que mostra também um caráter de abertura na Capoeira, pois, independente de bandeira, o que vale é a qualidade do show apresentado.

Apresentação de Puxada de Rede com o Afro Ketu/ Arquivo Pessoal






A Associação Cultural Afro ketu foi criada com o intuito de resgatar jovens da região de Morrinhos, no Guarujá/SP, por iniciativa do Mestre Rafael de Oliveira Rodrigues. O grupo iniciou as aulas gratuitas de Capoeira e danças folclóricas há cerca de 17 anos. As aulas são gratuitas e o cachê recebido nas apresentações  ajuda a manter o projeto por onde mais de 3 mil jovens já passaram desde sua criação.
Imagem de divulgação

A Contramestre Nielainde conta que os eventos de Capoeira são de certa forma uma novidade para eles, "A Capoeira está voltando a reconhecer essa questão histórica que tinha perdido. Durante muito tempo trabalhamos mais em convenções e teatros do que em eventos de Capoeira. As oportunidades em eventos estão aparecendo com mais frequência de um tempo pra cá.", explicou a porta voz do grupo.






Saiba como contratar


Mestre Marcos China oferece oficinas de confecção de caxixi, confecção de Maraca, confecção de caixinha de fósforo, musicalização através do Caxixi, musicalização com instrumentos artesanais e de Sonoplastia. Para mais informações entre em contato através do e-mail marcospamc@gmail.com ou através da fanpage.

Já a Associação Cultural Afro ketu apresenta shows de Dança Afro, Capoeira, Percussão, Samba de Roda, Maculelê, Afixirê e Puxada de Rede. Para mais informações entre em contato pelo e-mail afroketu@bol.com.br ou através da fanpage.


quarta-feira, 7 de março de 2018

Coletivo feminino realiza a segunda edição do evento Desperta Mulher


Imagem de divulgação


Rio de Janeiro - Brasil


O MMIÊ - Movimento de Mulheres Iê - realiza no próximo sábado, 10 de março, o evento Desperta Mulher, em favor da igualdade de gênero e em repúdio à violência contra a mulher. 

Fruto da reunião de mulheres capoeiristas em um grupo de Whatsapp, o MMIÊ conta hoje com a participação de 85 mulheres de diferentes partes do mundo, que discutem diariamente questões relativas à Capoeira, à atuação da mulher na Capoeira e à sociedade de um modo geral.

Este ano o evento traz o tema "Gingando sobre pétalas e espinhos", que é um projeto que enaltece as histórias e trajetórias das mulheres capoeiristas. A programação prevista inclui manifestações culturais, rodas e palestras.

O Desperta Mulher acontece simultaneamente no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Tocantins, São Paulo, Ceará, Minas Gerais, Paraná, Lisboa, em Portugal, e Luanda, em Angola. A proposta é ter um dia de reflexão, capaz de fortalecer essas mulheres e conscientizar os homens.


Gingando sobre pétalas e espinhos


Criado em Julho de 2017, o projeto Gingando sobre pétalas e espinhos pretende dar voz às mulheres capoeiristas, tornando público os percalços e a perseverança na caminhada dentro da Capoeira. Periodicamente a fanpage do projeto traz uma mulher aos holofotes e conta a sua história.

Como tudo relacionado à nossa arte, não existem dados oficiais sobre a participação feminina na Capoeira, ou sobre a evasão das mulheres por motivos diversos que incluem o cuidado com os filhos, a dupla jornada de trabalho, pressões sociais e o machismo existente dentro da própria Capoeira. 

Iniciativas como o MMIÊ e o projeto Gingando sobre pétalas e espinhos são extremamente importantes, pois, trazem representatividade e comprovam que aquela velha história sobre competitividade feminina não é 100% verdade. A competitividade existe, como existe entre homens e entre homens e mulheres, mas, a verdade é que nós (sim, é uma mulher quem escreve o blog) estamos aprendendo com movimentos como esses que unidas não poderemos ser subjugadas e que cada uma de nós importa. Da corda crua à Mestre de Capoeira mais antiga, todas nós temos o nosso valor e esse valor não precisa ser provado trocando tapas com outra mulher cada vez que entramos numa roda de Capoeira.

Para mais informações sobre locais e horários, entre em contato com a organizadora da sua região nos telefones disponíveis na imagem acima.

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