MESTRE MARA
Herança Cultural
Siomara Sousa Santos nasceu em Santa Cruz da Vitória, Bahia, em 12 de Abril de 1970.
Começou na Capoeira aos 12 anos por influência de seu irmão, Mestre Chuveiro. Mesmo após o afastamento dele das rodas de Capoeira, Mestra Mara persistiu nos treinos e resolveu se filiar ao Grupo do Mestre Catitu, hoje Herança Cultural
Mãe de duas meninas, nem mesmo a maternidade foi capaz de lhe afastar da sua grande paixão, a Capoeira.
Mestre Mara vive em Guarulhos/SP e na roda e na vida é um exemplo de garra e superação.
*A entrevista a seguir foi realizada em Março de 2013 e é inédita e exclusiva do Blog Capoeira de Toda Maneira
(Maíra Gomes) - Conta como foi seu começo na capoeira com o seu irmão:
(Mestre Mara) - Bom, iniciei minha trajetória aos 12 anos em Outubro de 1982, com meu Mestre e irmão, Mestre Chuveiro (Juscelino José de Sousa Santos). Ele que me apresentou a capoeira. Eu havia deixado de praticar ginástica olímpica, esporte que pratiquei por dois anos, e então a facilidade que eu tinha para fazer ginástica fez com que eu praticasse a capoeira.
(Maíra Gomes) - Seu irmão foi seu primeiro Mestre, mas o resto da família te apoiou na prática da Capoeira?
(Mestre Mara) - Sim, até me formar como Contramestre. Sou de uma família de nove irmãos, mas como eu estava com meu irmão mais velho não tinha problema, pois eles também não achavam que futuramente eu faria da capoeira minha profissão e minha filosofia de vida. Já minha mãe nunca gostou muito, mas também não conseguiu mudar o destino que foi traçado assim que a capoeira me escolheu.
(Maíra Gomes) - Como foi sua caminhada até chegar ao Grupo Herança Cultural?
(Mestre Mara) - Depois de uns dois anos que meu irmão havia parado com a capoeira, em 97, resolvi me filiar ao grupo de capoeira do Mestre Catitu, que na época ainda se chamava Guerreiros de Zumbi e hoje é meu Grupo Herança Cultural Capoeira.
(Maíra Gomes) - Como é sua relação com o Mestre Catitu?
(Mestre Mara) - Além de aluna e Mestre, somos parceiros e amigos, pois dividimos tudo que está relacionada ao grupo e também coisas pessoais.
(Maíra Gomes) - A senhora é formada em Educação Física. Já trabalhou em alguma outra coisa que não seja Capoeira?
(Mestre Mara) - Sim, em academia, com musculação, natação e ginástica localizada.
(Maíra Gomes) - Quem são seus ídolos na Capoeira?
(Mestre Mara) - São tantos. Alguns que já não estão entre nós, mas que foram e ainda representam muito para nossa arte, como Mestre Bimba e Mestre Pastinha e outros a quem tenho muito respeito e admiração, como Mestres Pinatti, Lobão, Suassuna, Rã, Maurão e meus Mestres Chuveiro e Catitu.
(Maíra Gomes) - Fale um pouco sobre seu trabalho, locais de aula, tipo de público:
(Mestre Mara) - Bom eu sou fruto de um projeto social, então sempre fiz questão de também dar aulas em projetos, além de escolas e academias, e o público sempre muito heterogêneo, crianças, adolescentes e adultos.
(Maíra Gomes) - É mais difícil para as mulheres se manterem na capoeira em função da maternidade e do casamento?
(Mestre Mara) - Sim, pois a maioria das mulheres quando são mães, ou se casam, passam a se dedicar às vezes completamente para a família, não restando tempo para a prática da capoeira.
(Maíra Gomes) - Como conseguiu conciliar a função de mãe com a de mestra de capoeira? É verdade que jogou Capoeira até o último mês de gravidez?
(Mestre Mara) - Quando fui mãe pela primeira vez já tinha feito à escolha de ser capoeirista e de fazer dela minha profissão, então minha pequena teve que se adaptar a essa minha vida e escolha. E com a segunda filha não foi diferente. Sim, da primeira gestação, quando tinha 27 anos, joguei capoeira até um dia antes da Thayná nascer e de Maria Eduarda, já com 38 anos, parei de jogar ao sete meses, mas não deixei de ir tocar o berimbau até os últimos dias.
(Maíra Gomes) - Já sentiu preconceito por ser mulher e Mestra de capoeira?
(Mestre Mara) - Sim, mas como Mestra nunca. Em alguns momentos, onde os homens tem a necessidade de se aparecer e achar que uma mulher não pode ser melhor que eles, muita vezes, mas em nenhuma deixei me intimidar ou deixei de jogar. Seria mais fácil ele não jogar rsrsrs.....
(Maíra Gomes) - Em sua opinião, que mulheres são referências na Capoeira?
(Mestre Mara) - Aquelas que como eu, tem a capoeira fazendo parte de suas vidas e que não deixarão nada ou ninguém interromper isso. Tenho muitas amigas, vou citar algumas, mas meninas se eu esquecer alguém me perdoem: Mestras Cigana, Luana, Arara, Brisa, Jô e Contramestres Iúna, Didi, Amazonas, Dendê, Viviam, Karine, Juliana e muitas outras.
(Maíra Gomes) - A senhora acha que as mulheres já conquistaram seu espaço nas rodas de Capoeira, ou há algo ainda a ser conquistado?
(Mestre Mara) - Sim, o espaço é nosso, agora é só manter com muito respeito, trabalho, treino, dedicação e conhecimento. E o que tiver para ser conquistado iremos conquistar.
(Maíra Gomes) - Qual a sua opinião sobre eventos exclusivos para as mulheres, como encontros femininos, rodas femininas e até campeonatos separados por sexo?
(Mestre Mara) - Sou a favor que as mulheres se organizem para realizarem eventos, mas não somente femininos, pois o espaço da roda é para todos, homens e mulheres onde podemos jogar e também nesses momentos de encontros onde a mulher esta em evidencia conversarmos e discutir o papel da mulher nessa arte, pois não só na capoeira, mas em todos os âmbitos da sociedade nós estamos lá lutando pelo nosso espaço então serão momentos de reflexão para homens e mulheres, quando se trata de competições acredito que possa ser dividido sim por gênero como em todas as artes marciais.
(Maíra Gomes) - Pra terminar: A Mestre Mara é muito rígida com seus alunos, se considera exigente?
(Mestre Mara) - Sim, sou rígida, pois também meus mestres foram e são rígidos e acredito que assim meus alunos serão tão bons e dedicados quanto eu. Mas é claro que isso acontece com os alunos que já são adolescentes ou adultos e com uma graduação mais alta, quando crianças prefiro que se apaixonem pela arte, aí depois não tem mais jeito.
Contato:
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